Foto: Lucas Uebel/Divulgação
Desde 2015 no futebol chinês, o filho de pai brasileiro e mãe boliviana Marcelo Moreno deixou seu nome marcado no país verde e amarelo, especialmente no Cruzeiro, onde foi o artilheiro da Libertadores em 2008, em sua primeira passagem, e conquistou o Campeonato Brasileiro de 2014, quando voltou ao time celeste emprestado pelo Grêmio. Mas um atrito com o técnico Vanderlei Luxemburgo acabou interrompendo a sua passagem pelo time gaúcho.
Em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, Marcelo Moreno diz ainda não entender o que aconteceu entre ele e o treinador, com quem fez boa temporada em 2012 - sendo artilheiro do time com 21 gols em 55 jogos.
"Eu sempre me perguntei qual o problema que o Luxemburgo teve comigo no Grêmio. Era o artilheiro do time na temporada anterior, consegui fazer o gol da classificação para a Libertadores do ano seguinte e, quando vira a temporada, ele simplesmente me afasta e isso me prejudica bastante porque eu fico dois meses sem treinar com o grupo", lembra Moreno.
"E eu chego empolgado para fazer o meu trabalho, e não é o mesmo do que quando você está treinando todos os dias, jogando... Por um lado me prejudicou, sim. Era mais fácil ele falar comigo, ter uma conversa de homem para homem e falar que eu não faria parte do ano seguinte. Aí eu me preparava melhor para poder ir para qualquer lugar e trabalhar de forma correta, como se deve, e não ter passado por tanta coisa desagradável que eu passei. Seria melhor uma conversa cara a cara e não ter que sofrer o que eu sofri", acrescenta.
"Não estava 100% no Flamengo"
Sem clima com Luxemburgo, Marcelo Moreno acabou emprestado ao Flamengo no mês de maio. O começo foi promissor, com quatro gols nos sete primeiros jogos, mas a passagem pelo clube carioca terminou sem grande destaque. Ainda assim, disputou algumas partidas na campanha da Copa do Brasil que terminou com título rubro-negro - em final contra o Athletico.
"Quando eu cheguei ao Flamengo, queria dar o melhor de mim dentro e fora de campo, ser um jogador que pudesse ajudar. Fui com a mentalidade positiva de ganhar títulos, e consegui ganhar um com os meus companheiros, uma Copa do Brasil, e é isso que se deixa na história. Mesmo você jogando todos os jogos ou menos. O grupo sempre vai estar na história", conta.
"Mas eu não estava 100%, eu vinha de um problema físico porque fui afastado no Grêmio com o Luxemburgo. Tenho certeza que se tivesse bem fisicamente poderia ter jogado muitos jogos e ajudado muito mais o Flamengo. Esse ponto foi fundamental. Depois que o Mano Menezes saiu do Flamengo, as coisas começaram a mudar bastante para mim. Não tive oportunidade, sequência, então as coisas acontecem dessa forma e você acaba não mostrando o teu futebol. Isso atrapalhou bastante na minha passagem pelo Flamengo, onde queria deixar o melhor de mim porque era um time que merecia", afirma o atacante, hoje com 31 anos.
Procurado por brasileiros, preferiu seguir na China
Marcelo Moreno é nome frequente no Brasil quando a janela de negociações está aberta. Na última, inclusive, ele diz que chegou a ser sondado por cinco clubes - sendo que dois fizeram proposta. O atacante, porém, não esconde que a questão financeira falou mais alto.
"Eu cheguei a negociar com cinco clubes do Brasil, mas só dois fizeram proposta oficial, e não chegamos a um acordo. A maioria ia jogar a Libertadores. O time chinês já me conhecia, me queria há algum tempo e foi muito rápida a negociação. Acabaram mostrando um projeto muito interessante para mim, já estou bem adaptado à China e isso pesou muito para poder aceitar essa proposta. A nível de contrato, é irrecusável. Eu abracei essa oportunidade, é um contrato de três anos que me dá oportunidade de fazer história no futebol chinês também", diz Marcelo, que hoje atua pelo Shijiazhuang Ever Bright, o terceiro clube chinês em sua carreira.
"Qualquer jogador do Brasil, ou a grande maioria, gostaria de vir para China. Te falo porque muitos amigos dentro do futebol já me ligaram. É um contrato surreal perto do Brasil. Você tem a sua independência. Jogador de futebol joga, no máximo, em alto nível, até 38 anos, se se cuida muito bem, e mesmo assim a vida que o jogador tem, de luxos, o dinheiro acaba. Depois o dinheiro vai embora. E você tem quatro filhos, tem que pagar escola, se tiver em escola internacional tem que pagar todo ano, e isso gera despesa. Depois que você não joga mais, as contas chegam, e o dinheiro que você no futebol, dentro do Brasil, talvez acabe", analisa.
"Não é esse mundo que muita gente pensa. Lógico, jogador é bem remunerado, mas até 35 anos. E depois? Você não tem renda que entre na sua conta. O futebol chinês te proporciona uma vida pós-futebol que é importante para a carreira do atleta, para a sua vida, para a família, é uma segurança financeira muito boa. Não vou negar que os contratos que fiz foram surreais porque realmente foram, muito importantes, e valorizo bastante quem faz um contrato desse, porque mostra que confia em você, que eles te valorizam. E isso não tem preço", acrescenta.
Vender lanches nos estádios despertou paixão por futebol
Filho do brasileiro Mauro Martins, ex-jogador do Palmeiras, Marcelo Moreno cresceu respirando futebol dentro de casa. Porém, a simples atração virou paixão depois que ele, ainda na pré-adolescência, começou a trabalhar vendo lanche e refrigerante dentro dos estádios da Bolívia. Ver de perto o amor da torcida por seu time nas arquibancadas mexeu bastante com Marcelo.
"Eu sempre vivenciei futebol dentro de casa. Meu pai [Mauro Martins] é ex-jogador, craque, foi muito bom [risos], meu irmão também foi profissional, então se falava de futebol, a gente assistia sempre, meu pai tentava me treinar de vez em quando, isso com 13 anos, e já comecei a me interessar. Mas teve um momento marcante na minha vida pessoal que foi nos estádios, mas não no futebol. Eu estava trabalhando, já com 13 anos, eu vendia lanches e refri nos estádios, e foi esse jeito de ganhar a vida no momento e por estar nos estádios que tive a felicidade de enxergar uma torcida que ama seu clube, e eu fui acompanhando isso desde as arquibancadas. Isso foi realmente marcante para mim. Eu era mais um torcedor", lembra.
"Isso me chamou muito a atenção para gostar de futebol também, e depois desses anos comecei a treinar num time de futebol na Bolívia e logo em seguida fui para o Vitória da Bahia, onde realmente começou tudo e, graças a Deus, consegui virar um jogador profissional", diz.
Brasil ou Bolívia? "Foi uma decisão muito difícil"
Antes de se profissionalizar pelo Vitória, Marcelo Moreno precisou, ainda nas categorias de base, optar por qual seleção jogaria dali em diante: Bolívia ou Brasil. A primeira opção prevaleceu, mas o atacante recorda o quão difícil foi fazer essa escolha.
"Se voltar no tempo vem um monte de lembranças sobre seleção brasileira, seleção boliviana, e, realmente, nesse momento foi muito difícil para eu tomar uma decisão. Imagina. A maior seleção de todos os tempos e você tendo a oportunidade de jogar lá. Como boliviano, você sendo convocado para a seleção da base do Brasil era de me orgulhar muito, mas infelizmente não consegui ir adiante porque esperei umas convocações para competições importantes como Sul-Americano, Mundial, e isso não aconteceu. E a seleção principal da Bolívia já estava me chamando, em contato comigo, e tomei essa decisão junto com a minha família de ir para a seleção boliviana, onde eu poderia ter muito mais oportunidades e virar uma referência, e graças a Deus isso aconteceu, hoje sou uma referência do meu país, da minha seleção, graças ao meu trabalho, ao meu esforço, dedicação, e já me vejo disputando mais uma Copa América no Brasil, e isso que me enche de orgulho de ter tomado essa decisão", afirma o jogador, que será, mais uma vez, o grande destaque da seleção boliviana na Copa América do Brasil.
Curiosamente, o primeiro adversário da Bolívia na Copa América é o Brasil, em confronto que abre a competição e está marcado para o dia 14 de junho, no Morumbi.
"Expectativa está a mil porque o futebol brasileiro que abriu as portas para mim, me deu oportunidade de ser um jogador profissional, me deu esse conhecimento e ainda estou tendo essa oportunidade de jogar a Copa América no Brasil, contra o Brasil, então é muito emocionante para mim poder participar e tentar fazer um grande jogo, porque tem que ser o nosso dia, um jogo perfeito para conseguir os pontos que a gente quer. E acredito que, se todos os jogadores estão se preparando da melhor maneira possível, vamos conseguir fazer um grande jogo, sim", afirma Marcelo, que diz sempre sentir algo diferente quando enfrenta o Brasil.
"É um sentimento único para mim, até porque me sinto metade brasileiro, por toda essa identificação que tenho, por ter jogador nas categorias de base do Brasil, pelo respeito que tenho dos torcedores brasileiros que estão sempre lembrando de mim, mesmo eu jogando um tempo fora, aquela foto eterna para mim que tirei com a seleção brasileira em La Paz... Então o sentimento é de alegria, de orgulho, de poder jogar com uma seleção tão forte no mundo tudo. E tomara que eu possa ir bem, que minha seleção possa fazer um grande jogo e que a gente faça festa para as pessoas que comparecerão ao estádio", acrescenta.
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"Eu sempre me perguntei qual o problema que o Luxemburgo teve comigo no Grêmio. Era o artilheiro do time na temporada anterior, consegui fazer o gol da classificação para a Libertadores do ano seguinte e, quando vira a temporada, ele simplesmente me afasta e isso me prejudica bastante porque eu fico dois meses sem treinar com o grupo", lembra Moreno.
"E eu chego empolgado para fazer o meu trabalho, e não é o mesmo do que quando você está treinando todos os dias, jogando... Por um lado me prejudicou, sim. Era mais fácil ele falar comigo, ter uma conversa de homem para homem e falar que eu não faria parte do ano seguinte. Aí eu me preparava melhor para poder ir para qualquer lugar e trabalhar de forma correta, como se deve, e não ter passado por tanta coisa desagradável que eu passei. Seria melhor uma conversa cara a cara e não ter que sofrer o que eu sofri", acrescenta.
"Não estava 100% no Flamengo"
Sem clima com Luxemburgo, Marcelo Moreno acabou emprestado ao Flamengo no mês de maio. O começo foi promissor, com quatro gols nos sete primeiros jogos, mas a passagem pelo clube carioca terminou sem grande destaque. Ainda assim, disputou algumas partidas na campanha da Copa do Brasil que terminou com título rubro-negro - em final contra o Athletico.
"Quando eu cheguei ao Flamengo, queria dar o melhor de mim dentro e fora de campo, ser um jogador que pudesse ajudar. Fui com a mentalidade positiva de ganhar títulos, e consegui ganhar um com os meus companheiros, uma Copa do Brasil, e é isso que se deixa na história. Mesmo você jogando todos os jogos ou menos. O grupo sempre vai estar na história", conta.
"Mas eu não estava 100%, eu vinha de um problema físico porque fui afastado no Grêmio com o Luxemburgo. Tenho certeza que se tivesse bem fisicamente poderia ter jogado muitos jogos e ajudado muito mais o Flamengo. Esse ponto foi fundamental. Depois que o Mano Menezes saiu do Flamengo, as coisas começaram a mudar bastante para mim. Não tive oportunidade, sequência, então as coisas acontecem dessa forma e você acaba não mostrando o teu futebol. Isso atrapalhou bastante na minha passagem pelo Flamengo, onde queria deixar o melhor de mim porque era um time que merecia", afirma o atacante, hoje com 31 anos.
Procurado por brasileiros, preferiu seguir na China
Marcelo Moreno é nome frequente no Brasil quando a janela de negociações está aberta. Na última, inclusive, ele diz que chegou a ser sondado por cinco clubes - sendo que dois fizeram proposta. O atacante, porém, não esconde que a questão financeira falou mais alto.
"Eu cheguei a negociar com cinco clubes do Brasil, mas só dois fizeram proposta oficial, e não chegamos a um acordo. A maioria ia jogar a Libertadores. O time chinês já me conhecia, me queria há algum tempo e foi muito rápida a negociação. Acabaram mostrando um projeto muito interessante para mim, já estou bem adaptado à China e isso pesou muito para poder aceitar essa proposta. A nível de contrato, é irrecusável. Eu abracei essa oportunidade, é um contrato de três anos que me dá oportunidade de fazer história no futebol chinês também", diz Marcelo, que hoje atua pelo Shijiazhuang Ever Bright, o terceiro clube chinês em sua carreira.
"Qualquer jogador do Brasil, ou a grande maioria, gostaria de vir para China. Te falo porque muitos amigos dentro do futebol já me ligaram. É um contrato surreal perto do Brasil. Você tem a sua independência. Jogador de futebol joga, no máximo, em alto nível, até 38 anos, se se cuida muito bem, e mesmo assim a vida que o jogador tem, de luxos, o dinheiro acaba. Depois o dinheiro vai embora. E você tem quatro filhos, tem que pagar escola, se tiver em escola internacional tem que pagar todo ano, e isso gera despesa. Depois que você não joga mais, as contas chegam, e o dinheiro que você no futebol, dentro do Brasil, talvez acabe", analisa.
"Não é esse mundo que muita gente pensa. Lógico, jogador é bem remunerado, mas até 35 anos. E depois? Você não tem renda que entre na sua conta. O futebol chinês te proporciona uma vida pós-futebol que é importante para a carreira do atleta, para a sua vida, para a família, é uma segurança financeira muito boa. Não vou negar que os contratos que fiz foram surreais porque realmente foram, muito importantes, e valorizo bastante quem faz um contrato desse, porque mostra que confia em você, que eles te valorizam. E isso não tem preço", acrescenta.
Vender lanches nos estádios despertou paixão por futebol
Filho do brasileiro Mauro Martins, ex-jogador do Palmeiras, Marcelo Moreno cresceu respirando futebol dentro de casa. Porém, a simples atração virou paixão depois que ele, ainda na pré-adolescência, começou a trabalhar vendo lanche e refrigerante dentro dos estádios da Bolívia. Ver de perto o amor da torcida por seu time nas arquibancadas mexeu bastante com Marcelo.
"Eu sempre vivenciei futebol dentro de casa. Meu pai [Mauro Martins] é ex-jogador, craque, foi muito bom [risos], meu irmão também foi profissional, então se falava de futebol, a gente assistia sempre, meu pai tentava me treinar de vez em quando, isso com 13 anos, e já comecei a me interessar. Mas teve um momento marcante na minha vida pessoal que foi nos estádios, mas não no futebol. Eu estava trabalhando, já com 13 anos, eu vendia lanches e refri nos estádios, e foi esse jeito de ganhar a vida no momento e por estar nos estádios que tive a felicidade de enxergar uma torcida que ama seu clube, e eu fui acompanhando isso desde as arquibancadas. Isso foi realmente marcante para mim. Eu era mais um torcedor", lembra.
"Isso me chamou muito a atenção para gostar de futebol também, e depois desses anos comecei a treinar num time de futebol na Bolívia e logo em seguida fui para o Vitória da Bahia, onde realmente começou tudo e, graças a Deus, consegui virar um jogador profissional", diz.
Brasil ou Bolívia? "Foi uma decisão muito difícil"
Antes de se profissionalizar pelo Vitória, Marcelo Moreno precisou, ainda nas categorias de base, optar por qual seleção jogaria dali em diante: Bolívia ou Brasil. A primeira opção prevaleceu, mas o atacante recorda o quão difícil foi fazer essa escolha.
"Se voltar no tempo vem um monte de lembranças sobre seleção brasileira, seleção boliviana, e, realmente, nesse momento foi muito difícil para eu tomar uma decisão. Imagina. A maior seleção de todos os tempos e você tendo a oportunidade de jogar lá. Como boliviano, você sendo convocado para a seleção da base do Brasil era de me orgulhar muito, mas infelizmente não consegui ir adiante porque esperei umas convocações para competições importantes como Sul-Americano, Mundial, e isso não aconteceu. E a seleção principal da Bolívia já estava me chamando, em contato comigo, e tomei essa decisão junto com a minha família de ir para a seleção boliviana, onde eu poderia ter muito mais oportunidades e virar uma referência, e graças a Deus isso aconteceu, hoje sou uma referência do meu país, da minha seleção, graças ao meu trabalho, ao meu esforço, dedicação, e já me vejo disputando mais uma Copa América no Brasil, e isso que me enche de orgulho de ter tomado essa decisão", afirma o jogador, que será, mais uma vez, o grande destaque da seleção boliviana na Copa América do Brasil.
Curiosamente, o primeiro adversário da Bolívia na Copa América é o Brasil, em confronto que abre a competição e está marcado para o dia 14 de junho, no Morumbi.
"Expectativa está a mil porque o futebol brasileiro que abriu as portas para mim, me deu oportunidade de ser um jogador profissional, me deu esse conhecimento e ainda estou tendo essa oportunidade de jogar a Copa América no Brasil, contra o Brasil, então é muito emocionante para mim poder participar e tentar fazer um grande jogo, porque tem que ser o nosso dia, um jogo perfeito para conseguir os pontos que a gente quer. E acredito que, se todos os jogadores estão se preparando da melhor maneira possível, vamos conseguir fazer um grande jogo, sim", afirma Marcelo, que diz sempre sentir algo diferente quando enfrenta o Brasil.
"É um sentimento único para mim, até porque me sinto metade brasileiro, por toda essa identificação que tenho, por ter jogador nas categorias de base do Brasil, pelo respeito que tenho dos torcedores brasileiros que estão sempre lembrando de mim, mesmo eu jogando um tempo fora, aquela foto eterna para mim que tirei com a seleção brasileira em La Paz... Então o sentimento é de alegria, de orgulho, de poder jogar com uma seleção tão forte no mundo tudo. E tomara que eu possa ir bem, que minha seleção possa fazer um grande jogo e que a gente faça festa para as pessoas que comparecerão ao estádio", acrescenta.
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Comentários (2)
o luxa se acha melhor que os outros nao tem nada de humildade tanto é que esta a anos desempregado
Bom jogador como sempre o luxa mostra sua face e seu carater sujo...
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