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Cortez ganha sequência no Grêmio e se desdobra para ser o pai que nunca teve

Em entrevista ao GloboEsporte.com, lateral fala sobre infância difícil, momento no clube e sobre a família; na quarta, jogador deixou Arena direto ao hospital para ficar com o filho


Fonte: Globoesporte

Cortez ganha sequência no Grêmio e se desdobra para ser o pai que nunca teve
Bruno Cortez mal teve tem tempo de fazer arrefecer o calor de um jogo nervoso, numa virada do Grêmio por 3 a 1 sobre o Fluminense, com direito a assistência para Barrios, pela Copa do Brasil, e já arruma suas coisas para deixar a Arena. A pausa no vestiário serve apenas para cumprir o protocolo de regeneração, na banheira de gelo. O lateral-esquerdo logo ruma às pressas ao hospital, para ficar perto da esposa, Juliana, e do filho recém-nascido e gaúcho, Noah, internado com um quadro de resfriado. Deixa em segundo plano a faceta atleta para assumir os encargos de um pai coruja, sempre presente. Um pai que nunca teve.

Aos 30 anos, o carioca não mede esforços para fazer o que pode por Juliana, Noah e por Pablo, seu primogênito de 10 anos. Cada arrancada. Cada passe. Cada gesto é articulado para não deixar algo faltar à prole. Porque a vida que lhe sorriu – e que o faz sorrir mesmo nas dificuldades – o mostra o quão dolorida é a falta de amparo. Cortez nunca conheceu o pai e perdeu a mãe aos sete anos. O menino foi acolhido pelo seu Zé e pela tia Gaída, que o criaram, mesmo em meio a certo preconceito. E o forjaram não como atleta, mas como cidadão de bem.

Sempre que entro no campo, que visto a camisa do Grêmio, eu penso na minha família. Entro sabendo que minha família depende do meu trabalho, do meu esforço. Se tiver que dar carrinho, eu vou dar carrinho. Se eu tiver que dar voadora... O importante é sair com a vitória e alegrar os torcedores. Não conheci (meu pai). O que ele não foi para mim, eu estou sendo para os meus filhos (Bruno Cortez).

Da infância (e da vida) árdua ao futebol. Do destaque e dos prêmios pelo Botafogo em 2011 – com direito a convocação à Seleção – ao Grêmio. O lateral enfim vive com a expectativa de enfileirar sua primeira sequência de jogos pelo Tricolor, após a lesão de Marcelo Oliveira. Enfim convive com a oportunidade de mostrar que pode aliar seu futebol "brasileiro", de ofensividade pura, com a "cara do Grêmio", com um jogo de pegada e entradas ferrenhas.

– É triste pelo fato de poder estar entrando no time com essa situação do Marcelo, que desde que eu cheguei aqui sempre me deu total apoio. Quero jogar aquele futebol bonito, alegre, solto, que todo o brasileiro gosta. O Renato fala: "calma, tranquilidade ali atrás. Primeiro marca, depois quando for para o ataque vai para decidir". Com certeza. (Quero aliar) Essa cara de futebol gaúcho, de Grêmio – afirma Cortez.

Em alto astral, Cortez recebeu a reportagem do GloboEsporte.com e da RBS TV para uma entrevista exclusiva no prédio que abriga sua casa, na Zona Norte de Porto Alegre, por volta das 13h30 desta quinta-feira, após viver horas anteriores de correria. Da vitória sobre o Flu ao hospital. Do hospital, com a boa notícia de que tudo corria bem com Noah, ao lar. Sempre com sorriso no rosto. Em 20 minutos de papo, o lateral-esquerdo dissecou sua história de vida e falou sobre o momento e o futuro pelo Grêmio.

Confira os trechos da entrevista:

GloboEsporte.com: Como você lida esse momento de enfim ter uma sequência e poer mostrar seu futebol no Grêmio, claro, com a notícia triste da lesão do Marcelo Oliveira?
Bruno Cortez: É triste pelo fato de poder estar entrando no time com essa situação do meu companheiro Marcelo, que desde que eu cheguei aqui sempre me deu total apoio. Conversando bastante comigo. Acho que um grupo, quando quer vencer e chegar a lugares altos e objetivos grandes precisa de todo mundo. Então, eu desejo uma boa recuperação para ele e vou aproveitar essa oportunidade que o professor Renato está me dando, de dar meu melhor para ajudar meus companheiros a vencer as partidas e estar vencendo nos campeonatos.

O seu objetivo é retomar o futebol do Bruno Cortez eleito o melhor lateral do Brasil, pelo Botafogo em 2011?
Sempre que eu entro em campo, eu quero dar meu melhor. Quero jogar aquele futebol bonito, que os torcedores gostam. E até eu mesmo fico feliz quando estou jogando aquele futebol alegre, solto. Aquele futebol que todo o brasileiro gosta. Cada jogo que eu faço, eu fico em casa analisando o que fiz de positivo, de negativo para no próximo jogo fazer uma partida melhor.

Você falou de jogar desse jeito que o brasileiro gosta, e a gente lembra que quando você chegou ao Grêmio, queria aprimorar a parte defensiva. Você já conseguiu?
Quando estive no Japão, durante dois anos, eu aprendi muito. O futebol lá é muita correria e, em termos de marcação, tinha que ficar bastante ligado. Aqui, os trabalhos que o professor vai passando para a gente, eu estava cada vez mais aproveitando a oportunidade de trabalhar forte tanto defensivamente quanto ofensivamente para fazer meu melhor. Quando surge oportunidade para eu jogar, o Renato fala: "calma, tranquilidade ali atrás. Primeiro marca, depois quando for para o ataque vai para decidir". Eu estou tendo a tranquilidade do Renato e de todos os companheiros.

Dá pra dizer que o Cortez leva esse lado do futebol "brasileiro" e tenta adaptar para ter um futebol mais com a "cara do Grêmio", do futebol gaúcho?
Com certeza. Essa cara de futebol gaúcho, de Grêmio. Eu fico muito feliz. Estou sempre buscando a melhor performance, desempenho e sempre querendo crescer. Pô. Esse jogo, eu fui bem. Dei assistência. No próximo, quero ir melhor, dar duas assistências. Quero poder crescer com meus companheiros.
Você tem algum entrosamento em especial com algum atacante do Grêmio? Contra o Fluminense, você deu o passe para o Barrios...

Uma vez, eu fiquei concentrado junto, a gente deu bastante risada, conversamos bastante. E eu sempre falava para ele: "Papito, me ajuda, que te ajudo. Se movimenta, que vou procurar te ajudar, te dar assistência". É fácil. Não só para mim e para o Marcelo, mas para os laterais que jogam ali. Fica fácil de ter uma referência ali no ataque, ter jogador que se movimenta, dá opção. Você vai passar tranquilo, que vai ter alguém para você dar a bola.
Gol do Grêmio! Lucas Barrios recebe na área, domina e escolhe o canto, aos 25' do 2ºT

Como você lida com essa concorência com o Marcelo, que é seu amigo e também uma referência, como líder do elenco?
A concorrência é muito boa. É um cara que eu convivo com ele, aprendo muito com ele. Pessoa do bem, maravailhosa. O treinador falou que ia ter oportunidade para todo mundo. Não cabe a mim ficar disputando quem vai jogar. O Renato só pode escolher 11. Os melhores. Ele sempre fala: "fiquem prontos, que a hora que eu precisar, a camisa está aqui". Infelizmente, o Marcelo se machucou, e chegou meu momento de mostrar meu trabalho, a qualidade que eu tenho. E mostrar para os torcedores que posso ajudar a equipe.

O que mudou no Grêmio para voltar a jogar em alto nível nos dois últimos jogos?
Eu acho que é a força do grupo, a humildade de trabalhar, de sempre estar conversando, buscando melhorar a cada jogo. O grupo fez um jogo maravilhoso contra o Botafogo. E falamos que o próximo jogo tinha que ser melhor, que não podíamos deixar a peteca cair. O grupo do Grêmio é sensacional. O ambiente é maravlihoso. Trabalha firme, sério. Todo mundo. Do presidente ao pessoal da rouparia.

Saindo um pouco do papo sobre futebol... Você tem um filho que é gaúcho recém-nascido, o Noah, que estava no hospital. Como foi esse momento?
Foi difícil, né? Você vê o seu filho no hospital. A minha esposa não queria falar comigo, estava em um jogo importante. Ela falou: "Não quero falar com você, você tem esse jogo importante, vai ter essa oportunidade". Eu falei: "Não, filha. O importante é saber que vocês estão bem". No jogo, estou focado para dar meu melhor. Sempre que entro no campo, que estou vestindo a camisa do Grêmio, eu penso na minha família. Entro sabendo que minha família depende do meu trabahlo, do meu esforço dentro de campo. Se tiver que dar carrinho, eu vou dar carrinho. Se eu tiver que dar voadora... O importante é sair com a vitória e alegrar os torcedores.


Cortez posta foto com os dois filhos na sua conta no Instagram (Foto: Reprodução/Instagram)

Ontem (quarta-feira), você saiu do jogo e foi direto para o hospital. É isso?
Sim. Quando acabou o jogo, eu falei com minha esposa, ela falou: "vai chegar que hora?". Fiquei fazendo banheira de gelo para recueprar, saí meia-noite e pouco e fui direto para o hospital. Fiquei com minha esposa, dormi lá. Saí de lá e cheguei meio-dia e pouco, direto para a entrevista. Graças a Deus, está tudo bem com ele, já. Logo está em casa com a gente.

É aquela coisa... Sai o Cortez jogador, lateral-esquerdo, e entra em cena o Cortez pai?
Com certeza. Primeiro é meu trabalho. É o ganha pão da família. A minha esposa estava cuidando do nosso filho no hospital. Depois, fui lá ver como estava minha esposa, pude dormir com eles no hospital. Agora, é só esperar para ele voltar para casa.

A gente estava falando antes... Você falou que o filho mais velho, o Pablo, vai ser bom jogador. É isso, mesmo?
É. A gente estava na casa do Grohe. Aí, ele bateu na bola, e o Geromel sacaneou: "ó, bate melhor que o Cortez". Claro. Esse é atacante. tem que ser melhor do que eu. É o artilheiro do time.

Você fala da relação com seus filhos. Eu estava vendo seu perfil no Instagram e me chamou atenção uma mensagem em que você agradeceu a Deus por poder ser um pai presente, algo que você não teve na sua infância. Foi uma infância difícil?
A oportunidade que Deus está me dando, de ter esses dois filhos abençoados é um privilégio, porque eu não tive pai. Perdi minha mãe com sete anos de idade. Outras pessoas me ajudaram,me criaram, me deram esse suporte. E se eu estou tendo essa oportunidade de dar esse suporte, tem que agradecer a Deus, porque eu não tive isso. Eu quero dar a eles o que não tive. Eu quero ajudar eles da melhor forma, da melhor maneira. Às vezes eu chego cansado, e meu filho fala: "Pai, vamos jogar bola?" Eu estou cansado, mas eu não vou falar que estou cansado. A criança passa o dia dentro do prédio, esperando o pai para descer, e se eu não descer com ele é complicado. Eu faço de tudo para poder dar suporte ao meu filho, à minha esposa, para dar esse carinho à minha família.

Chegou a conhecer seu pai?
Não cheguei a conhecer. É vida que segue. Se ele estiver vivo, que Deus abençoe. Não tenho mágoa. Era só minha mãe, mas ela morreu quando estava grávida, eu ia ter mais um irmão ou irmã. Eu não sabia. Eu sou filho único. Deus cuidou de mim e colocou pessoas abençoadas para me ajudar e me criar. Foi o seu Zé e a tinha Gaída, que me ajudaram. Eles são só gente loira. Eu era o único pretinho. Então o pessoal da rua me gastava, que eu era escravo. Eu era o único preto. Porque só tinha mulher loira. Os homens tudo de olhos azuis. Mas eles me ensinaram muito. Que tinha que ser exemplo. que minha família tinha que ver a diferença em mim do homem que me tornei, que estou fazendo cada vez mais ser melhor. E para mim construir uma família. Tudo o que sou, eu agradeço a eles.

Você chegou a enfrentar algum preconceito?
Era ruim. Numa casa, só mulher loira, eu era o único preto. O pessoal falava esse pretinho deve ser mordomo, alguma coisa. Mas essa família sempre me tratou igual. Se todo mundo ia comer na mesa arroz e feijão, eu ia comer com eles na mesa. Não tinha esse negócio. Foi uma família de Deus na minha vida (Bruno Cortez).

Por todo esse contexto, podia ter seguido um caminho pior na vida, né?
Eu tenho amigos aí que foram criados comigo. Tinham mãe e pai e se perderam. É tudo escolha que cada um vai fazer. Eu sempre converso com meu filho. Falo comele, o que é bom, o que é errado. Ele tem 10 anos, mas já tem que saber, porque a Bíblia mesmo nos fala: Ensina ao seu filho o caminho que se tem que andar, para lá na frente ele não venha se desviar. Já estou ensinando o caminho que ele tem que andar, para lá na frente não ser culpa minha. Eu mostrei o caminho. Mas o meu filho é um menino do bem, que gosta, também, então não tenho do que reclamar.



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1/5/2024