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Lincoln, o menino de 17 anos do Grêmio que virou o dono da casa

Meia é um dos destaques do clube no começo da temporada


Fonte: Diário Gaúcho



O guri cresceu. E não apenas na estatura — hoje, resultado de dois anos de trabalhos físicos, Lincoln tem 1m76cm, quatro centímetros a mais desde a chegada aos profissionais. O menino tímido que praticamente afundava no sofá da sala, vendo a mãe, Clode, conceder entrevista a Zero Hora, em outubro de 2012, agora conta os dias para virar pai. Mais do que isso, converte-se na mais concreta esperança da torcida do Grêmio de melhora de desempenho dentro de campo. Com certeza, será visto ao menos em uma parte do jogo contra o Ypiranga, neste domingo, em Erechim.

Lincoln começou a amadurecer aos nove anos, ao perder o pai. Era "seu" Natalício, sepultado há oito anos no Cemitério Jardim da Paz, quem o acompanhava, em 2007, na longa travessia entre a parada 13 da Lomba do Pinheiro e o bairro Cristal para treinar na escolinha do Grêmio.

— Ele já estava doente e ainda me levava para os treinos. Faz bastante falta — lamenta, enquanto acomoda-se na cadeira da sala de imprensa do CT Luiz Carvalho, já com o uniforme para o treinamento de quinta-feira.

O garoto havia sido recomendado por uma professora da Escola Municipal Heitor Villa Lobos para um período de testes em um conveniado do clube em Viamão. A permanência foi relâmpago. Lincoln treinou pela manhã e, à tarde, já foi levado para integrar-se aos meninos de sua idade no Cristal. Ali, começou a virar homem.

— Desde aquele tempo, eu me considero o homem da casa — orgulha-se. — Passei a ganhar um pouco de dinheiro de ajuda de custo para poder ajudar a família. Naquele tempo, a coisa era muito difícil — relata.

A ajuda de custo saía do bolso de seu primeiro empresário, que fazia doação de ranchos à família para manter o menino sob contrato, ainda que informal.

Uma radical mudança de vida deu-se aos 14 anos, quando Lincoln foi descoberto pelo empresário Delcir Sonda. Essa parte da história, inclusive com a cinematográfica chegada de Sonda e equipe, em dois carrões importados, na casa da Lomba do Pinheiro, para a assinatura do contrato, já foi contada por Zero Hora. Com qualidade de sobra, o meia saltou direto dos juvenis para os profissionais, com 15 anos. Em janeiro de 2015, com 16 anos recém feitos, já fazia parte do grupo levado por Felipão para a pré-temporada em Gramado. A afirmação não veio no mesmo ano, embora seu pé esquerdo já encantasse nos treinamentos. Neste começo de 2016, sim, o talento explodiu, a ponto de sua inclusão entre os titulares ter virado um clamor entre os torcedores. O gol salvador contra o San Lorenzo o transformou de vez em novo xodó.

— Pressão da torcida sempre vai ter. Eu quero é trabalhar para ajudar meus companheiros — diz Lincoln, cujas palavras são ouvidas a custo pelo interlocutor. Quinta-feira, ao entrevistá-lo para seu programa nas madrugadas da Rádio Gaúcha, o apresentador Rafael Colling precisava quase colar o microfone em sua boca a cada resposta.

— Ele é quietão mesmo. Mal se ouve o que fala. Em casa, ele se solta um pouco mais — entrega um de seus assessores de imprensa.

O menino não é dado a badalações. As horas de folga são consumidas com a família na casa comprada por Sonda no Bairro Santa Fé, divisa com Alvorada — a mãe, dona Clode queria morar em Ipanema, mas prevaleceu a vontade de Lincoln. Ali, não há sossego. Crianças correm o dia inteiro e amigos se revezam nas visitas. Lincoln passa a maior parte do tempo no videogame. Quando sai, é para jogar bola com os sobrinhos.

— Gosto muito de ouvir pagode. A família toda é pagodeira. Rap também é muito legal. Diz exatamente como é a realidade. É como a Bíblia. Foi escrita há mil anos e as mesmas coisas ainda se repetem hoje — diz.

Com a agenda cada vez mais espremida por treinamentos e jogos, Lincoln dispõe de pouco tempo para rever amigos de infância. Uma época em que, como relata, mal chegava da Escola Villa Lobos e desatava a jogar bola nos campinhos da Lomba do Pinheiro, só voltando à noite para casa.

— Fico um pouquinho com os amigos quando eu e meu irmão vamos levar a mãe para ver a irmã dela. Mas nunca vou esquecer minhas origens — assegura.

Na madrugada de quinta-feira, após alongadas entrevistas de quem recém havia celebrado o gol de última hora em Buenos Aires, Lincoln ligou para Porto Alegre. Na casa da família, depois de amainada a bagunça geral da hora do empate, Clode, falou com o filho e desandou no choro. O meia recebeu cumprimentos do irmão Leonardo, um segundo volante que vai jogar nos Estados Unidos. E trocou com o outro, Rick Davis, que o assessora, um diálogo revelador.

— Viu, mano? Já foi de esquerda e agora meti de direita — disse o meia do Grêmio.

— Está bem, está bem — admitiu Rick.

Lincoln se referia ao gol de perna esquerda no pênalti que converteu contra o Cruzeiro, sábado passado, no Estádio do Vale. O de direita havia sido instantes antes diante do San Lorenzo, pelo Grupo 6 da Libertadores.

Há muito Rick insiste com o mano sobre a necessidade de chutar com as duas pernas.

— Falo para ele bater sempre, seja de onde for, tem de chutar, do contrário não sai gol. E ele vem se puxando direto — conta o irmão.

Além dos treinos no Grêmio, Lincoln tem sido perseverante até em trabalhos que realiza em casa, sozinho ou em companhia dos sobrinhos Dinis, um volante de 13 anos, e Didier Drogba, meia-esquerda de oito, ambos jogadores do Inter.

— Ele não se desgruda da bola — repara o mano.

Seu Natalício certamente ficaria feliz ao conhecer o novo neto. Como são ainda apenas dois meses de gestação, Lincoln não sabe o sexo. Nem arrisca o nome que escolherá:

— Menino ou menina, terá meu amor do mesmo jeito.

Sua única certeza é de que sua vida para mudou para melhor desde que soube que seria pai. Garante que passou a ter mais vontade de fazer as coisas. Reconheceu "não ter dado tudo" no ano passado.

— Estou mais mobilizado, sempre tive vontade de poder criar um filho. Ele também vai me ensinar muita coisa — confia.

Terminada a entrevista, Lincoln posa com paciência para uma sessão de fotos. Nada tem de estrela, ainda que o assédio da imprensa seja cada vez maior. Só naquela quinta-feira, daria três outras entrevistas.

— Ídolo? Ídolo é Neymar, esses caras ...

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