A Copa do Mundo de 2010 reservou alguns momentos sublimes do futebol nos tempos modernos. Não pela Espanha e sua retranca ofensiva, obviamente. Mais pelo Waka Waka y las caderas de Shakira, que jamais mentem, e obviamente pelo protagonismo africano e pela histórica campanha da seleção uruguaia. E dentro desses eventos quase oníricos desenrolados em solo sul-africano, como afresco pintado nos céus mundialistas, surge Luiz Suárez saltando para defender, no último espasmo de sobrevivência canchera, como quem ensinasse o ofício a Muslera, o que seria o gol provavelmente fatal de Gana.
Menos midiática que a defesa foi a reação do uruguaio, já expulso e retardando a entrada no túnel, comemorando o pênalti desperdiçado, que abriu caminho para a Celeste avançar até a semifinal. Onde alguns observaram uma espécie de recompensa ao antifutebol, o que se manifestava era algo diametralmente oposto: uma demonstração viva, em carne e osso, entre dentes e suspiros de hierba mate, de alguém absolutamente entregue ao jogo que manifesta sua beleza através de diversas escolas estéticas. Ali estava Luisito Suárez em toda sua essência (e, com um pouco mais de essência, anos mais tarde também, mastigando uns italianos em campos brasileiros).
E foi exatamente este Suárez que, na época não sabíamos, estava desembarcando em Porto Alegre para vestir a camisa do Grêmio em 2023. Obviamente, carregando já algum reflexo da idade, com os joelhos latejando em véspera de chuva (e de sol também). No entanto, não levaria muito tempo para se perceber que a entrega continuava a mesma do petiço que treze anos atrás arremetia pelos ares de Joburg para usar de artifícios extremos e manter a sua seleção viva e esperneando. Falar da cátedra e da hierarquia goleadora seria obviedade, pois trata-se de um dos maiores jogadores da história recente.
O que realmente surpreendeu é que a abnegação em campo continuava intacta o uruguaio entregou além do que o tricolor mais otimista esperava, mesmo que ele esperasse muito. Se titubeou quando viu o camarada Messi quase lhe convocando para compartilhar as férias remuneradas, logo se recompôs e esqueceu o chamado da sereia norte-americana, que assobia a melodia das máquinas caça-níqueis. Tanto retomou o juízo que se transformou no melhor jogador do Brasileiro, com alguma folga, e sem ele possivelmente o jogo contra o Vasco, no último domingo, fosse um confronto direto temperado com agonia no cabo de guerra da temporada, às vezes o próprio parecia estar puxando para o lado oposto.
Os onze meses de Suárez com a camisa do Grêmio se passaram como um lapso de tempo, sonho entre dois pontos de ônibus, piscada mais longa que o normal, e a despedida de domingo de certa forma era desdobramento da própria apresentação, com a diferença apenas entre a expectativa e a realidade que muito se aproximaram. Houve um Gauchão para Suárez levar embora (para Florida no Uruguai, para a Flórida nos Estados Unidos, ninguém ainda sabe), mas houve sobretudo o testemunho de uma trajetória que nasceu como improvável e se encerra atingindo contornos lúdicos.
Houve inclusive alguma ameaça de campeonato, e nesse caso o roteirista seria o próprio Eurico Lara, mas os gremistas sabem bem o que viveram após a mítica atuação do uruguaio contra o Botafogo e tudo que coube em seus corações naqueles três dias prévios ao enfrentamento contra o Corinthians. E talvez, mas apenas talvez, ao fim daquele domingo chuvoso Suárez tenha pensado que poderia ter voado para repetir sonhos passados e defender o chute de Romero. Nesse caso, provavelmente vai remoer isso pelo resto da vida.
Footer blog Meia Encarnada Douglas Ceconello — Foto: Arte
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