Rei da Copa: Grêmio cala mais de 90 mil no Maracanã e conquista o tri

"Ah, eu tô maluco!" O grito de guerra que ressoava das 90 mil almas em um Maracanã lotado era de amedrontar. Tornava quase inconcebível a missão dos gremistas naquela final de Copa do Brasil contra o Flamengo, em 1997, quando até o gesto singelo de falar com o companheiro mais próximo era impossível para os gaúchos. A tarefa ficara ainda mais ingrata com a virada por 2 a 1 que dava a taça ao Rubro-Negro, com gols de Lúcio e Romário, após João Antônio abrir o placar com uma pintura. O cenário caótico para o Grêmio perdurou até os 34 do segundo tempo.

Aí, brilharam o talento e a frieza de uma equipe acostumada às glórias. Mas que nunca havia derrotado um exército de quase 100 mil pessoas. Até então. Esperto, Carlos Miguel deu o bote na entrada da área, e a bola sobrou para Otacílio, que, de primeira, lançou Roger pela esquerda. O lateral cruzou mascado, com o "calcanhar", e a bola parecia simples para a defesa do Flamengo. Só parecia. A bola passou e encontrou o pé esquerdo do mesmo Carlos Miguel, que empurrou para as redes para empatar o jogo.

O camisa 11 saiu em corrida inabalada e tapou o rosto com a camisa, numa comemoração efusiva pelo gol do tri invicto da Copa do Brasil. A reação nas arquibancadas foi ainda mais notória. A barulheira frenética dos flamenguistas, que ansiavam pelos pouco mais de 10 minutos até bradar "é campeão" ficou engasgada num silêncio ensurdecedor que tomou conta do Maracanã naquele 22 de maio de 1997.

– Depois que eu fiz o gol, se alguém abrisse uma latinha, você escutava. Foi um choque para eles. Eu vou ser bem sincero. Eu tenho certeza que tinha chope esperando no vestiário deles. Eles tinham certeza que iam ser campeões. Fomos lá e colocamos uma aguinha no chope deles. Ou melhor. A gente poderia pedir emprestado e levar para o nosso vestiário. Ia ser bem tomado com certeza. Foi o título da consagração do grupo. Serviu para coroar aquele grupo fantástico. As pessoas perguntam até hoje como um grupo daqueles foi tão vitorioso. É a amizade – afirma o autor do gol do título, Carlos Miguel.

Aliás, o Maraca só não ficara totalmente calado pela festa dos cerca de 5 mil gremistas após ver o capitão Mauro Galvão erguer a taça. Ali, a massa azul fez ressoar o grito de "Ah, eu sou gaúcho". Um hino entoado até pelos atletas que nasceram longe dos limites do Rio Grande do Sul e que virou símbolo da conquista que pôs um fim e tanto a uma das eras mais vitoriosas da história do Grêmio.

Confira a campanha até a taça:

Primeira fase:
Jogo de ida: Fortaleza 2 x 3 Grêmio – Estádio Castelão – 18/03/1997
Gols: Paulo Silva e Sandro Gaúcho (Fortaleza). Zé Alcino (2) e Paulo Nunes (Grêmio)
Jogo da volta: Grêmio 3 x 1 Fortaleza – Estádio Olímpico – 25/03/1997
Gols: Paulo Nunes (2) e Dinho (Grêmio). Gol: Sandro Gaúcho.

Oitavas de final:
Jogo de ida: Grêmio 2 x 1 Portuguesa – Estádio Olímpico – 04/04/1997
Gols: Paulo Nunes e Otacílio (Grêmio). Marcelo Miguel (Portuguesa)

Jogo da volta: Portuguesa 1 x 1 Grêmio – Canindé – 08/04/1997
Gols: Paulinho McLaren (Portuguesa). Paulo Nunes (Grêmio).

Quartas de final:
Jogo da ida: Grêmio 2 x 0 Vitória – Estádio Olímpico – 18/04/1997
Gols: Luiz Carlos Goiano e Paulo Nunes
Jogo da volta: Vitória 3 x 3 Grêmio – Fonte Nova – 03/05/1997
Gols: Gil Baiano, Chiquinho Pernambucano e Agnaldo (Vitória). Nilson (contra), Paulo Nunes e Rodrigo Gral (Grêmio)

Semifinal:
Jogo da ida: Corinthians 1 x 2 Grêmio – Morumbi – 08/05/1997
Gols: Marcelinho Carioca (Corinthians). Rodrigo (Contra) e Paulo Nunes (Grêmio)
Jogo da volta: Grêmio 1 x 1 Corinthians – Estádio Olímpico – 15/05/1997
Gols: Paulo Nunes (Grêmio). Donizete (Corinthians)

Final:
Jogo da ida: Grêmio 0 x 0 Flamengo – Estádio Olímpico – 20/05/1997
Jogo da volta: Flamengo 2 x 2 Grêmio – Estádio Maracanã – 22/05/1997
Gols: Lúcio e Romário (Flamengo). João Antônio e Carlos Miguel (Grêmio).

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