Foto: Eduardo Moura/GloboEsporte.com
Não há como lembrar dos títulos de 1983 e de Renato Portaluppi sem lembrar de Valdir Espinosa. Campeões da Libertadores e do mundo como jogador e técnico, a dupla voltou ao Grêmio há pouco menos de um mês para dar novo rumo ao time no Brasileirão. Mas esse não é o único desafio do agora coordenador técnico. Aos 68 anos – completa 69 na próxima segunda-feira –, Espinosa também luta contra o carimbo de desatualizado por conta da idade. Que não o impede de sonhar a longo prazo, como revela em entrevista entrevista exclusiva ao GloboEsporte.com e à RBS TV.
Há pouco mais de um mês no cargo, Espinosa coloca o título da Copa do Brasil ou a vaga na Libertadores como os objetivos até o final do ano. Mas ele quer ir além. Sonha ser útil nas conquistas do tri da América e do bi Mundial e na revelação de um "novo Renato". Todas situações que passam pela renovação de contrato, que se encerra no final do ano, sem garantia de continuidade. Mas, após voltar ao seu clube de coração após 30 anos, não vê nada como impossível.
– Esse sonho já vai fazer quase um mês que foi realizado. Agora existem mais sonhos a ser conquistados. Vai me perguntar qual é, não é? Ver o Grêmio tricampeão da Libertadores e bicampeão mundial. Não é de uma hora para outra, mas é o sonho que tenho. E vamos colocar um terceiro sonho: fazer um outro Renato – sorri Espinosa.
Confira abaixo trechos da entrevista:
GloboEsporte.com - Você está fechando quase um mês de trabalho no Grêmio. Qual é a avaliação?
Valdir Espinosa - É positiva dentro daquilo que se encontrou. Uma equipe que estava disputando a primeira posição e tida como candidata direta ao título, veio o segundo turno e teve uma queda. O Grêmio ficou fora da competição, quase fora de uma Libertadores. Abriu-se a vaga (G-6), volta a expectativa deste sonho até para outras equipes. Ao que se encontrou uma equipe cabisbaixa, e não poderia ser de outra forma. Jogadores preocupados na posição que estavam. O primeiro passo do Renato foi readquirir a confiança, que tivessem de novo aquele comprometimento que a camisa do Grêmio exige. E isso aconteceu. Já começamos a ver nos jogos. Até porque, em um espaço curto, não adianta querer fazer tudo, ou dizer que fará tudo.O importante é fazer a coisa certa.
Como está o entrosamento entre você e o Renato, como treinador e coordenador?
É tranquilo, nos conhecemos. Desde quando o Renato era da base e eu ainda jogava no Esportivo. Olha o tempo. Passa para todo mundo. Ali tivemos o primeiro contato. Trouxe o Renato para o Grêmio depois, como treinador. Mas ali no Esportivo iniciava uma amizade e, comandante e comandado, fosse quem fosse, aprenderam a se respeitar, a conversar, a se cobrar um do outro. O segredo do sucesso é a cobrança. Claro que eu cobro o Renato, porque quero ver o Renato grande. E o Renato quer me ver grande e me cobra. E nós dois queremos ver o Grêmio maior ainda.
Fora a questão profissional, quando estavam em clubes diferentes ou desempregados, mantinham contato?
Sim, até porque moramos no Rio. Finais de ano quase todos passávamos juntos. Sempre conversando. Não é uma coisa que passou, treinador e jogador, auxiliar e treinador. Passou disso, passou a existir uma coisa de pai para filho. Considero (Renato) um filho, e ele, um segundo pai. Como todo filho, me fez ficar com alguns cabelos brancos.
Essa relação facilita as mudanças de funções que vocês já tiveram? O senhor foi treinador dele, auxiliar e agora é coordenador.
Com certeza. As pessoas quando colocam assim: "você vai ser auxiliar, Espinosa?". Parece que cai. E cai, né, de treinador, campeão do mundo, para ser auxiliar. Mas sempre disse: "quando o filho pede algo, você nega?". Não. Então, quando o Renato me pediu para ser auxiliar, claro que fui. Mas só dele, porque é o pedido de um filho para um pai.
O que o senhor já conseguiu colocar em prática no Grêmio em termos de pensamento de futebol, de organização do clube no profissional, base, metodologias?
Ainda é cedo. O cuidado é não querer fazer tudo ao mesmo tempo e acabar não fazendo nada. Tem uma coisa que está à frente de tudo. O Grêmio voltar a uma Libertadores e conquistar a Copa do Brasil. Isso faz com que a atenção e o trabalho estejam voltados totalmente ao profissional. Uma outra etapa será no momento certo, na hora certa.
Como está seu coração nesta volta?
Sempre dizia que tinha um sonho de voltar para o Grêmio. Esse sonho já vai fazer quase um mês que foi realizado. Agora existe mais sonhos a ser conquistados. Vai me perguntar qual é, não é? Ver de novo o Grêmio tricampeão da Libertadores e bicampeão mundial. Não é de uma hora para outra, mas é o sonho que tenho. E vamos colocar um terceiro sonho: fazer um outro Renato.
Renato e Espinosa conversam antes de treinamento (Foto: Eduardo Moura/GloboEsporte.com)
É difícil fazer um outro Renato?
Não é fácil, não. O Renato foi um gênio. Em um coletivo uma vez, estava de lateral-esquerdo e aquele garoto apareceu na minha frente. Diz ele que me driblou algumas vezes. Eu acho que driblou uma vez. Mas o que dei de tapa na orelha não foi brincadeira. Ali conheci o Renato e vi que era diferenciado. Pegava a bola e partia para dentro. Não interessava quem estava na frente dele. A partir dali vi quem era o Renato. A primeira coisa que fiz quando vim para o Grêmio, como auxiliar do Oberdan, foi indicar o Renato. E fomos lá em Bento (Gonçalves) e buscamos ele. O Renato é o maior ídolo da torcida, foi importante junto com os companheiros na Libertadores e no Mundial.
Como foram seus trabalhos recentes antes do Grêmio (Esportivo e Metropolitano). Falou-se muito que não houve êxito...
No Esportivo foi diferente, porque foi mais ou menos como este aqui, só que era uma coordenação de todo o futebol. Só não foi possível, e não foi culpa de ninguém, havia um esforço da direção. A dificuldade financeira do momento impedia que projetos fossem realizadas. Todo projeto para ser feito depende de investidor. Volto a dizer: todos tinham vontade que as coisas acontecessem. Mas o momento não proporcionava isso. Em Blumenau, fomos como treinador. Tudo é uma questão de tempo. No aspecto financeiro, havia uma proposta para que o clube permanecesse na primeira divisão. Na quarta rodada, acho que cometi um exagero: disse que dava para disputar o turno e ir para a final. E íamos lutar. Só que perdemos um jogo, para a Chapecoense, por 3 a 0. Disseram: "goleada da Chapecoense". O técnico (da Chapecoense) disse: chutamos três bolas no gol e fizemos três gols, mas o Blumenau jogou melhor. Faz parte do jogo, não desmerece.
Coordenador concede entrevista com letreiro de campeão do mundo ao fundo (Foto: Eduardo Moura/GloboEsporte.com)
Como foi acompanhar o futebol de fora para se manter informado?
Não sou de escrever, rapaz, sou ruim. Mas falar, deixa comigo. Tenho maior carinho pelo torcedor. Comecei pelos vídeos e entrou a parte tática. Não é para dizer: "Vejam o que eu sei". É para curtir comigo, fico feliz quando ouço: "Vejo teus vídeos". Isso gratifica muito. Hoje é aquela história: quer dizer que está atualizado, viaja e tira uma foto. Abro um parêntese: um dia, fomos jogar com o Grêmio no Marrocos. Encontrei sabe quem lá? Nada menos que o Cruyff. No hotel conversei com ele, falei sobre o Renato e tal. Depois, estava dirigindo a seleção paraguaia e fomos jogar contra uma equipe mexicana. O treinador era o Bielsa. Depois do jogo, já era 1h, chegou o Bielsa no hotel, meio maluco. E já sentou. Afastamos as coisas da mesa, pegamos papel e começamos. Ele dizia: "Meu time jogando assim, como tu ataca?" Assim. Agora vou fazer o meu, como tu ataca? Ficamos até quatro, cinco da manhã. Sabella, na Copa, disse que aprendeu com o Espinosa. Isso que é bacana. Sabe qual foi meu erro? Não tirei nenhuma foto.
O que é um técnico atualizado?
É buscar cada dia mais aprender, não achar que sabe tudo. Sempre tem alguma coisa acontecendo. Hoje, você tem a facilidade até nos sites dos clubes. Não vê todos, mas alguns treinos que podem dar ideias para que você ou faça igual ou adapte. Muitas vezes, um treinamento lá pode servir e pode não servir para cá. Acho triste quando a gente carimba: "Esse é aquilo, esse é aquilo outro". Analise: esse tem este tipo de ideia, esse tem outra. Pode ser errado, claro. Que se critique. Mas que não se coloque o rótulo em função de idade. Quem é mais velho – atenção, sou jovem – não sabe nada, ultrapassado. E quem é jovem, sabe tudo. Há muitas coisas importantes ontem que servem para hoje. E muitas coisas de hoje que não servem para nada. Junte as coisas boas de ontem e as de hoje e terá sucesso maior. Isso é o segredo.
Como coordenador, o senhor tem a função de colocar uma cara, filosofia de jogo? Qual seria para o Grêmio?
Isso não seria para agora. Agora, temos que ganhar na disputa. Você vai colocando algumas coisas, o Renato outras. Em relação a futuro, é isso. Eu tenho uma ideia de futebol. Se eu vier para cá e a ideia não for colocada por mim, não faz sentido. Você tem que conhecer minhas ideias, saber se são certas, se são boas, se minhas ideias farão sucesso no Grêmio, darão resposta na criação de jogadores, tudo isso tem que saber se tem condições. E a partir daí, dizer sim ou não. Não posso vir para o Grêmio para dizer que estou aqui. Eu tenho uma maneira de pensar e aí é escolhido. Essa ideia é correta e continuará, essa ideia não é correta.
Espinosa rabisca ideias de futebol em caderno a pedido da reportagem (Foto: Eduardo Moura/GloboEsporte.com)
Na sexta-feira passada, você teve um longo papo com o capitão Maicon...
E vou ter com outros. É questão da experiência. E o Renato sabe disso. A conversa é sempre buscando o melhor. Fazer com que o jogador se sinta melhor, com que abra uma possibilidade maior de aproveitamento do Renato. Vem de uma lesão, tínhamos um tempo para conversar.
Qual o seu grau de interferência neste sentido?
Não diria de interferência, diria de ajuda, cooperação. Observar certos detalhes. Tenho todo o direito e toda a liberdade de conversar com o jogador. Importante para qualquer pessoa em um vestiário, antes de olhar, ouvir o bom dia e o boa tarde. Ao ouvir, já identifica, alguma coisa aconteceu. Aí, vai no olhar. E ataque rápido, não deixe para resolver amanhã. O problema de hoje amanhã ficará muito maior.
O Grêmio vai viver um período eleitoral pela frente. É parte do seu papel fechar o vestiário para esse tipo de coisa?
Digo o seguinte. O vestiário tem que estar aberto para todas as pessoas inteligentes que lá vão trabalhar. Não pode fechar e dizer este pode e este não. As pessoas inteligentes sabem o momento certo no vestiário. Não é uma porta aberta e entra todo mundo, uma bagunça. Está aberto a todos que querem ajudar e vão ajudar. E esses que querem ajudar, sabem a hora certa de entrar. Aliás, basta bater na porta.
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Há pouco mais de um mês no cargo, Espinosa coloca o título da Copa do Brasil ou a vaga na Libertadores como os objetivos até o final do ano. Mas ele quer ir além. Sonha ser útil nas conquistas do tri da América e do bi Mundial e na revelação de um "novo Renato". Todas situações que passam pela renovação de contrato, que se encerra no final do ano, sem garantia de continuidade. Mas, após voltar ao seu clube de coração após 30 anos, não vê nada como impossível.
– Esse sonho já vai fazer quase um mês que foi realizado. Agora existem mais sonhos a ser conquistados. Vai me perguntar qual é, não é? Ver o Grêmio tricampeão da Libertadores e bicampeão mundial. Não é de uma hora para outra, mas é o sonho que tenho. E vamos colocar um terceiro sonho: fazer um outro Renato – sorri Espinosa.
Confira abaixo trechos da entrevista:
GloboEsporte.com - Você está fechando quase um mês de trabalho no Grêmio. Qual é a avaliação?
Valdir Espinosa - É positiva dentro daquilo que se encontrou. Uma equipe que estava disputando a primeira posição e tida como candidata direta ao título, veio o segundo turno e teve uma queda. O Grêmio ficou fora da competição, quase fora de uma Libertadores. Abriu-se a vaga (G-6), volta a expectativa deste sonho até para outras equipes. Ao que se encontrou uma equipe cabisbaixa, e não poderia ser de outra forma. Jogadores preocupados na posição que estavam. O primeiro passo do Renato foi readquirir a confiança, que tivessem de novo aquele comprometimento que a camisa do Grêmio exige. E isso aconteceu. Já começamos a ver nos jogos. Até porque, em um espaço curto, não adianta querer fazer tudo, ou dizer que fará tudo.O importante é fazer a coisa certa.
Como está o entrosamento entre você e o Renato, como treinador e coordenador?
É tranquilo, nos conhecemos. Desde quando o Renato era da base e eu ainda jogava no Esportivo. Olha o tempo. Passa para todo mundo. Ali tivemos o primeiro contato. Trouxe o Renato para o Grêmio depois, como treinador. Mas ali no Esportivo iniciava uma amizade e, comandante e comandado, fosse quem fosse, aprenderam a se respeitar, a conversar, a se cobrar um do outro. O segredo do sucesso é a cobrança. Claro que eu cobro o Renato, porque quero ver o Renato grande. E o Renato quer me ver grande e me cobra. E nós dois queremos ver o Grêmio maior ainda.
Fora a questão profissional, quando estavam em clubes diferentes ou desempregados, mantinham contato?
Sim, até porque moramos no Rio. Finais de ano quase todos passávamos juntos. Sempre conversando. Não é uma coisa que passou, treinador e jogador, auxiliar e treinador. Passou disso, passou a existir uma coisa de pai para filho. Considero (Renato) um filho, e ele, um segundo pai. Como todo filho, me fez ficar com alguns cabelos brancos.
Essa relação facilita as mudanças de funções que vocês já tiveram? O senhor foi treinador dele, auxiliar e agora é coordenador.
Com certeza. As pessoas quando colocam assim: "você vai ser auxiliar, Espinosa?". Parece que cai. E cai, né, de treinador, campeão do mundo, para ser auxiliar. Mas sempre disse: "quando o filho pede algo, você nega?". Não. Então, quando o Renato me pediu para ser auxiliar, claro que fui. Mas só dele, porque é o pedido de um filho para um pai.
O que o senhor já conseguiu colocar em prática no Grêmio em termos de pensamento de futebol, de organização do clube no profissional, base, metodologias?
Ainda é cedo. O cuidado é não querer fazer tudo ao mesmo tempo e acabar não fazendo nada. Tem uma coisa que está à frente de tudo. O Grêmio voltar a uma Libertadores e conquistar a Copa do Brasil. Isso faz com que a atenção e o trabalho estejam voltados totalmente ao profissional. Uma outra etapa será no momento certo, na hora certa.
Como está seu coração nesta volta?
Sempre dizia que tinha um sonho de voltar para o Grêmio. Esse sonho já vai fazer quase um mês que foi realizado. Agora existe mais sonhos a ser conquistados. Vai me perguntar qual é, não é? Ver de novo o Grêmio tricampeão da Libertadores e bicampeão mundial. Não é de uma hora para outra, mas é o sonho que tenho. E vamos colocar um terceiro sonho: fazer um outro Renato.
Renato e Espinosa conversam antes de treinamento (Foto: Eduardo Moura/GloboEsporte.com)
É difícil fazer um outro Renato?
Não é fácil, não. O Renato foi um gênio. Em um coletivo uma vez, estava de lateral-esquerdo e aquele garoto apareceu na minha frente. Diz ele que me driblou algumas vezes. Eu acho que driblou uma vez. Mas o que dei de tapa na orelha não foi brincadeira. Ali conheci o Renato e vi que era diferenciado. Pegava a bola e partia para dentro. Não interessava quem estava na frente dele. A partir dali vi quem era o Renato. A primeira coisa que fiz quando vim para o Grêmio, como auxiliar do Oberdan, foi indicar o Renato. E fomos lá em Bento (Gonçalves) e buscamos ele. O Renato é o maior ídolo da torcida, foi importante junto com os companheiros na Libertadores e no Mundial.
Como foram seus trabalhos recentes antes do Grêmio (Esportivo e Metropolitano). Falou-se muito que não houve êxito...
No Esportivo foi diferente, porque foi mais ou menos como este aqui, só que era uma coordenação de todo o futebol. Só não foi possível, e não foi culpa de ninguém, havia um esforço da direção. A dificuldade financeira do momento impedia que projetos fossem realizadas. Todo projeto para ser feito depende de investidor. Volto a dizer: todos tinham vontade que as coisas acontecessem. Mas o momento não proporcionava isso. Em Blumenau, fomos como treinador. Tudo é uma questão de tempo. No aspecto financeiro, havia uma proposta para que o clube permanecesse na primeira divisão. Na quarta rodada, acho que cometi um exagero: disse que dava para disputar o turno e ir para a final. E íamos lutar. Só que perdemos um jogo, para a Chapecoense, por 3 a 0. Disseram: "goleada da Chapecoense". O técnico (da Chapecoense) disse: chutamos três bolas no gol e fizemos três gols, mas o Blumenau jogou melhor. Faz parte do jogo, não desmerece.
Coordenador concede entrevista com letreiro de campeão do mundo ao fundo (Foto: Eduardo Moura/GloboEsporte.com)
Como foi acompanhar o futebol de fora para se manter informado?
Não sou de escrever, rapaz, sou ruim. Mas falar, deixa comigo. Tenho maior carinho pelo torcedor. Comecei pelos vídeos e entrou a parte tática. Não é para dizer: "Vejam o que eu sei". É para curtir comigo, fico feliz quando ouço: "Vejo teus vídeos". Isso gratifica muito. Hoje é aquela história: quer dizer que está atualizado, viaja e tira uma foto. Abro um parêntese: um dia, fomos jogar com o Grêmio no Marrocos. Encontrei sabe quem lá? Nada menos que o Cruyff. No hotel conversei com ele, falei sobre o Renato e tal. Depois, estava dirigindo a seleção paraguaia e fomos jogar contra uma equipe mexicana. O treinador era o Bielsa. Depois do jogo, já era 1h, chegou o Bielsa no hotel, meio maluco. E já sentou. Afastamos as coisas da mesa, pegamos papel e começamos. Ele dizia: "Meu time jogando assim, como tu ataca?" Assim. Agora vou fazer o meu, como tu ataca? Ficamos até quatro, cinco da manhã. Sabella, na Copa, disse que aprendeu com o Espinosa. Isso que é bacana. Sabe qual foi meu erro? Não tirei nenhuma foto.
O que é um técnico atualizado?
É buscar cada dia mais aprender, não achar que sabe tudo. Sempre tem alguma coisa acontecendo. Hoje, você tem a facilidade até nos sites dos clubes. Não vê todos, mas alguns treinos que podem dar ideias para que você ou faça igual ou adapte. Muitas vezes, um treinamento lá pode servir e pode não servir para cá. Acho triste quando a gente carimba: "Esse é aquilo, esse é aquilo outro". Analise: esse tem este tipo de ideia, esse tem outra. Pode ser errado, claro. Que se critique. Mas que não se coloque o rótulo em função de idade. Quem é mais velho – atenção, sou jovem – não sabe nada, ultrapassado. E quem é jovem, sabe tudo. Há muitas coisas importantes ontem que servem para hoje. E muitas coisas de hoje que não servem para nada. Junte as coisas boas de ontem e as de hoje e terá sucesso maior. Isso é o segredo.
Como coordenador, o senhor tem a função de colocar uma cara, filosofia de jogo? Qual seria para o Grêmio?
Isso não seria para agora. Agora, temos que ganhar na disputa. Você vai colocando algumas coisas, o Renato outras. Em relação a futuro, é isso. Eu tenho uma ideia de futebol. Se eu vier para cá e a ideia não for colocada por mim, não faz sentido. Você tem que conhecer minhas ideias, saber se são certas, se são boas, se minhas ideias farão sucesso no Grêmio, darão resposta na criação de jogadores, tudo isso tem que saber se tem condições. E a partir daí, dizer sim ou não. Não posso vir para o Grêmio para dizer que estou aqui. Eu tenho uma maneira de pensar e aí é escolhido. Essa ideia é correta e continuará, essa ideia não é correta.
Espinosa rabisca ideias de futebol em caderno a pedido da reportagem (Foto: Eduardo Moura/GloboEsporte.com)
Na sexta-feira passada, você teve um longo papo com o capitão Maicon...
E vou ter com outros. É questão da experiência. E o Renato sabe disso. A conversa é sempre buscando o melhor. Fazer com que o jogador se sinta melhor, com que abra uma possibilidade maior de aproveitamento do Renato. Vem de uma lesão, tínhamos um tempo para conversar.
Qual o seu grau de interferência neste sentido?
Não diria de interferência, diria de ajuda, cooperação. Observar certos detalhes. Tenho todo o direito e toda a liberdade de conversar com o jogador. Importante para qualquer pessoa em um vestiário, antes de olhar, ouvir o bom dia e o boa tarde. Ao ouvir, já identifica, alguma coisa aconteceu. Aí, vai no olhar. E ataque rápido, não deixe para resolver amanhã. O problema de hoje amanhã ficará muito maior.
O Grêmio vai viver um período eleitoral pela frente. É parte do seu papel fechar o vestiário para esse tipo de coisa?
Digo o seguinte. O vestiário tem que estar aberto para todas as pessoas inteligentes que lá vão trabalhar. Não pode fechar e dizer este pode e este não. As pessoas inteligentes sabem o momento certo no vestiário. Não é uma porta aberta e entra todo mundo, uma bagunça. Está aberto a todos que querem ajudar e vão ajudar. E esses que querem ajudar, sabem a hora certa de entrar. Aliás, basta bater na porta.
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