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Roger disseca 1º ano no Grêmio e vê caminho "pavimentado" para títulos

Em entrevista ao GloboEsporte.com, treinador faz balanço do trabalho que completa um ano no Tricolor, discorre sobre sua visão de futebol e revela projetos para o futuro


Fonte: Globo esporte

Roger disseca 1º ano no Grêmio e vê caminho pavimentado para títulos
Roger completa 1 ano no comando do Grêmio (Foto: Eduardo Deconto/GloboEsporte.com)
O sol oscilava entre nuvens no CT Luiz Carvalho numa gélida tarde em Porto Alegre, mas à beira do campo, as convicções de Roger Machado afloravam em tom decisivo. As engrenagens do futebol, sua obsessão, movem a fala do treinador. E mais. Conduzem sua postura metódica no dia a dia do clube, numa rotina que completa um ano nesta quinta-feira, data do duelo com o Atlético-MG, no Independência, pela terceira rodada do Brasileirão. A ponto de levá-lo a traçar um balanço positivo de 365 dias em que saltou de técnico emergente a badalado, ainda que a sonhada primeira taça da nova carreira tenha passado longe de suas mãos.

O sol oscilava entre nuvens no CT Luiz Carvalho numa gélida tarde em Porto Alegre, mas à beira do campo, as convicções de Roger Machado afloravam em tom decisivo. As engrenagens do futebol, sua obsessão, movem a fala do treinador. E mais. Conduzem sua postura metódica no dia a dia do clube, numa rotina que completa um ano nesta quinta-feira, data do duelo com o Atlético-MG, no Independência, pela terceira rodada do Brasileirão. A ponto de levá-lo a traçar um balanço positivo de 365 dias em que saltou de técnico emergente a badalado, ainda que a sonhada primeira taça da nova carreira tenha passado longe de suas mãos.

Roger recebeu as reportagens do GloboEsporte.com e da RBS TV no CT Luiz Carvalho no começo da tarde de segunda-feira. Com um copo de café em punho para amenizar o frio, trajava chuteiras brancas e agasalho do clube, sua armadura costumeira para o trabalho. Chegou a soltar um "tudo isso é para mim?" ao deparar com o equipamento de gravação. Mas o espanto logo deu lugar à obsessão e à naturalidade para falar sobre futebol.

Durante mais de 30 minutos de conversa acerca de seus métodos de trabalho, o treinador dissecou seu primeiro ano no Grêmio. O incômodo com a falta de um título era latente a cada resposta, mas incapaz de demovê-lo de suas convicções. Roger discorreu sobre suas crenças, a rotina no Tricolor e o futuro. Vê um caminho já pavimentado para títulos, sonha com Europa e projeta até escrever um livro sobre tática. Sabe que está valorizado. Mas sabe, também, que tem, antes, algo bem mais urgente a resolver com os gremistas.

> Confira a entrevista com Roger Machado:

GloboEsporte.com: Você já parou para pensar sobre essa marca de um ano em frente ao Grêmio? Dá para fazer um balanço?

Roger Machado: Essa semana, eu estava imaginando que por essa época, no ano passado, estava chegando ao clube cheio de expectativas. Voltando para casa, agora como treinador do clube. Para mim, passou bem rápido. Uma chegada muito boa, um final de Campeonato Brasileiro muito bom. Uma expectativa gerada em torno da conquista da vaga na Libertadores. Um começo de 2016 instável, com as eliminações, e o recomeço numa segunda edição do Campeonato Brasileiro. O balanço, muito embora que relacionado a conquistas, elas não tenham vindo, eu tenho a certeza de que o caminho está bem traçado para a gente conquistar.




Neste período, qual foi seu melhor momento, o de maior satisfação?

Um momento de grande satisfação ainda está por vir, que vai ser uma grande conquista, mas houve pequenos momentos de grandes satisfações, se é que se pode dizer assim. De ver no time o trabalho bem executado do dia a dia. Como treinador, me sinto pertencente às quatro linhas quando as coisas se dão da forma que tu idealizas com os atletas. Houve momentos em jogos... O jogo contra o nosso próximo adversário, o Atlético-MG, no ano passado. Mas eu não saberia especificar jogos. Tenho na cabeça grandes momentos. Alguns deles terminaram em gols, outros numa forma muito inteligente de se defender e contra-atacar. Isso nos deixa satisfeitos.
E se desse para voltar atrás... Você teria algo a mudar?

Não. Não mudaria nada. Em alguns momentos, você toma uma decisão em que você imagina o que a partida te pede e, na prática, mostra que não ocorreu daquela forma. Ou você monta uma estratégia para a partida, e o adversário vem diferente do que você imagina que viria...

É o caso do jogo com o Rosario?

Não. Nós sabíamos muito bem como jogar. O que nos surpreendeu foi justamente que o adversário teve uma qualidade muito grande no seu jogo. A forma como jogava, nós havíamos trabalhado em função disso. O problema é que o adversário fez com bastante qualidade. Fomos eliminados por um adversário com muita qualidade. Não vejo o que pudesse fazer de diferente. Em algumas situações, você reage a um evento do jogo que não acontece da forma que você quer. Nem sempre acontece da mesma forma. Como disse o Garrincha, tinha que combinar com os russos (risos).
Um momento de grande satisfação ainda está por vir, que vai ser uma grande conquista, mas houve pequenos momentos de grandes satisfações"

Roger Machado

Você é um técnico emergente e já teve de suportar a pressão de uma eliminação em sua primeira Libertadores. Como foi esse período? Vale o aprendizado?
Muito se fala da pressão sobre o treinador, mas durante 20 anos, eu vivi como jogador. Isso não é novo para mim. E muito embora o período aqui dentro do Grêmio, que vivi na década de 90, tenha sido vitorioso, eu disputei sete Libertadores e ganhei uma. As outras seis também foram eliminações dolorosas, e o torcedor também se manifestou com frustração. Foram 10 Brasileiros e eu ganhei um. Tive nove outras eliminações. Saber lidar com a pressão já faz parte do dia a dia de quem vive com futebol. Às vezes eu ouço que é uma carreira nova e que vou ter que aprender a lidar com outras coisas, mas os elementos são os mesmos. Só a responsabilidade é maior. Agora, respondo pelo todo. É aprendizado, mas eu já tinha um prévio.

Mas como você falou, há a responsabilidade do cargo e sobre o grupo. Como você agiu nesse período?

Quando jogador, principalmente mais experiente, você tem que usar dessa capacidade. Você é a referência dentro do grupo. O trabalho não é só do treinador. É um trabalho das lideranças, de remobilizar. Mas nada mais tranquilo em um momento de remobilização do que você passar confiança para o atleta. No momento da derrota, acaba que ninguém serve. Costumo dizer que a avaliação do quão importante você foi como jogador acontece só depois que você para de jogar. Só assim é definitiva. Quando você joga, quarta você ganhou e é bom. No domingo, você perdeu e não joga nada. Eu não me iludo, porque a avaliação de treinador é só depois que morre.

Mesmo sem essa grande conquista, você já é pretendido pelos grandes clubes. Por que você acha que chegou a esse nível?

O resultado é medido pelo último momento na competição, que é o título. Junto com isso, você conseguir sistematizar uma forma de jogar não é uma tarefa muito fácil, e quando isso acaba aparecendo dentro do jogo denota que há um conceito trabalhado dia a dia. E o mercado, aqueles que enxergam futebol de uma forma mais ampla, conseguem reconhecer isso. Falta um título. Tenho certeza que da forma como jogamos organizadamente, a gente está muito mais próximo de conquistá-lo.
Traçando esse paralelo, um ano atrás, você era técnico do Novo Hamburgo. Agora chega a esse ponto, de ser pretendido por outros clubes, no comando do Grêmio. Esperava que fosse tão rápido?

Sinceramente, eu quando jogava ainda, já comecei a planejar o meu pós-carreira como treinador. De lá para cá, eu construí essa possibilidade de chegar ao alto nível. As coisas aconteceram mais rápidas do que eu imaginava. Isso não quer dizer que não estivesse preparado para tal.

O que foi mais difícil: implantar a metodologia ou tentar manter o nível de atuações?
A metodologia vai implementando e dando a cara que você quer, o que você deseja no dia a dia. É uma construção que não deixa de acontecer. Nesse momento, você vai adaptando o time às características dos jogadores, dando alternativas para que, quando bem marcado, o sistema tenha as ferramentas para conseguir sobressair os sistemas defensivos bem montados. Mas hoje o time tem uma forma de jogar estabelecida, que, se sai um jogador, se consegue permitir que o sistema continue bem.

A equipe já atingiu a cara ideal?

Eu já vi. O torcedor já viu. No Brasileiro, na Libertadores, no Gauchão. Esperamos que essa forma, resgatando a forma vitoriosa do clube, nos dê conquistas, que é o que o torcedor deseja.

Nós sabíamos muito bem como jogar. O que nos surpreendeu foi justamente que o adversário teve uma qualidade muito grande no seu jogo. Não vejo o que pudesse fazer de diferente. Como disse o Garrincha, tinha que combinar com os russos (risos)"
Roger Machado

Você acha que 2016 é o ano de sua afirmação, após a primeira chance num grande clube?

A cada ano é um ano de afirmação. O treinador está sendo constantemente cobrado. E esse ano para mim é importante para que a gente ganhe títulos com o Grêmio. O ano não começou muito bem, muito embora 2015 tenha acabado muito bem, mas o Brasileiro está recém começando. E a gente começou bem. Em 2016, o segundo semestre pode reservar muitas alegrias. 2016 é um ano de afirmação. 2017, também. 2018, também. E até o dia que eu decidir encerrar.

Em sua chegada, você disse que pretendia resgatar o DNA Tricolor. Dá para se dizer que há uma mescla com o "DNA do Roger"?

Quando se fala no DNA, da origem cultural de um time, se fala muito da forma como o time se comporta quando está sem a bola. O comportamento de intensidade perante o adversário para retomar essa bola para que, de posse dela, pela qualidade e pelo modelo do jogo, faça chegar ao gol adversário. Muito se questionou se eu estaria mudando a forma do Grêmio jogar. Não é essa a intenção. É acrescentar dentro da cultura do clube, de muita entrega e doação, uma forma de jogar que permita sobressair o talento do jogador.

E você conseguiu passar todos esses aspectos ou há algo a melhorar?

Mesmo que tenha conseguido passar quase que a totalidade do meu pensamento é preciso repetir muito sempre. Como são muitas variáveis, que interferem no jogo, a cada treinamento, você precisa repeti-las para que isso fique fixado na mente e no corpo do jogador. É a mesma coisa que colocar um avião em altitude de cruzeiro. Você coloca ele para voar, depois vai reajustando um pouco.

O que te deixa mais satisfeito: uma jogada bem construída para gol ou a movimentação defensiva bem executada?

As duas partes em igualdade. Tão satisfatório quanto ver acontecer um gol ou uma chance criada de gol em cima de uma movimentação que você construiu dentro da atividade é ver uma cobertura bem feita em um lance em que o adversário, se a gente não tivesse feito a cobertura que foi treinada, teria feito o gol. Eu que fui defensor, vibrava muito. Meu gol era muitas vezes impedir o adversário de fazer gol. Eu vibro igual.

Como é sua rotina de trabalho no Grêmio?
Eu chego uma hora e meia antes da atividade, geralmente os auxiliares já estão no clube, e a gente define a estrutura de treino do dia. Eu prefiro sempre chegar bem antes e não ter hora para ir embora. Era assim como atleta. Sempre gostei de ter hora para chegar e não ter hora para sair. De conviver no ambiente com profissionais, para entender a estrutura e o funcionamento dele. Também é importante. Me aproxima e dá legitimidade ao trabalho.

A avaliação do quão importante você foi como jogador acontece só depois que você para de jogar. Só assim é definitiva. Eu não me iludo, porque a avaliação de treinador é só depois que morre"

Roger Machado

A gente já viu você colocar a mão na massa nos treinos. Isso é para engajar o atleta?
A ideia é criar atividades dentro das necessidades para evoluir em algum aspecto. A dificuldade do jogo me dá ferramentas para criar uma atividade para ajustar algo que deu errado. O futebol tem uma parte que você consegue controlar. É um ambiente de criação. Eu imagino a situação, mas preciso me certificar se o que eu imaginei vai cumprir a expectativa. Tem que por a mão na massa, testar. Como estive em campo muito tempo, preciso sentir corporalmente para saber.

No ano passado, o gol do Douglas contra o Atlético-MG virou referência em um curso para treinador. O que isso representa para você?

Eu nunca busquei ser referência. O que eu quero é instrumentalizar o atleta para que consiga exercer sua profissão da melhor forma e na plenitude. A parte tática coletiva, ela serve para organizar o jogador quando esteja sem a posse da bola. O que eu desejo é construir um grupo vitorioso. Me agrada de uma forma. Em alguns momentos, isso ficou bem marcado, mas o intuito não era esse. O Intuito é construir uma forma de chegar ao gol adversário.

Como você reagiu ao apelido de "Pep Guardiroger"?

Lembro que à época, eu disse que não gostava de rótulos, porque quando o momento fosse ruim, seria motivo para inversão desses rótulos. Continuo com o mesmo pensamento. Do "Guardiroger", no momento de instabilidade, dos maus resultados, eu também recebi muitos memes com outros atributos. Eu mantenho equilibrado. Não me envaideço com elogio excessivo, tampouco me deprimo com a crítica.
O ano não começou muito bem, muito embora 2015 tenha acabado muito bem, mas o Brasileiro está recém começando. E a gente começou bem. Em 2016, o segundo semestre pode reservar muitas alegrias"

Roger Machado

Você se sente preparado para trabalhar na Europa?

Tudo é planejamento para que eu chegasse a esse momento. Dez anos atrás, eu planejei para que eu chegasse e tivesse condição de atingir um nível internacional. Tudo parte de um sonho e tem que haver um planejamento. Nesse momento, eu quero muito conquistar com o Grêmio. A partir das conquistas aqui, me dará possibilidade de pensar em outros momentos da carreira. Me sinto desafiado para trabalhar onde quer que o futebol esteja, pela construção e pela forma que eu planejei o momento que vivo hoje. Minha experiência prática, minha formação como educador físico, meu período com auxiliar, minha saída do Grêmio para me tornar treinador principal.

O que o Roger tem a melhorar como técnico?

A gente está sempre evoluindo, sempre melhorando. Com relação a ideias novas, a treinamentos novos, a formas diferentes de jogar. A minha personalidade, ela é única. E essa não muda. Independente de como interprete que exista um modelo de treinador ideal, na minha opinião, não existe um único modelo a ser seguido. No futebol brasileiro, em alguns momentos, a gente acaba seguindo o modelo do vitorioso, identificando que é a receita do sucesso. Existem vários modelos. O importante é se ter a convicção e se trabalhar duro para alcançá-los.

Você costuma consumir muita literatura sobre tática, mas reconhece que os brasileiros ainda escrevem pouco sobre o tema. Você pensa em escrever?

Em algum momento, sim. Mas nesse momento, eu tenho algo mais urgente para tratar.

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