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Memes, xixi e maestria: Douglas veste a 10 além do campo e 'foge da regra'

Em entrevista ao GloboEsporte.com, meia gremista comenta extinção do camisa 10, sucesso nas redes sociais e boa fase aos 33 anos: "Muitos me taxavam de chinelinho"


Fonte: GloboEsporte

Memes, xixi e maestria: Douglas veste a 10 além do campo e foge da regra
Douglas mostra seu lado descontraído, e também marcas dos adversários (Foto: Eduardo Moura / GloboEsporte.com)

A saída abrupta de Ronaldinho Gaúcho do Fluminense tirou da partida desta quarta-feira um jogador capaz de passes milimétricos, jogadas de efeito e assistências retiradas da cartola. Mas engana-se quem pensa que o craque era o único. Do lado do Grêmio, há outro atleta que honra a tradição de camisas 10 de qualidade. Aliás, Douglas parece fazer parte de uma seleta galeria cada vez mais rara. Em campo, como armador clássico. E também fora dele, ao assumir um lado descontraído, de falar o que pensa e "fugir da regra".

Trata-se, praticamente, de um romântico da bola. Um dos últimos. Que não fugiu de nenhuma pergunta em conversa exclusiva com o GloboEsporte.com, no CT Luiz Carvalho, às vésperas do duelo das 22h desta quarta, que vale vaga na semifinal da Copa do Brasil. Ao Tricolor, basta qualquer vitória sobre os cariocas na Arena.

Aos 33 anos, Douglas celebra a boa fase em campo, que o levou a 50 jogos, o atleta que mais atuou pelo Grêmio no ano. Aproveita para contestar quem o chamara de "chinelinho". A língua do barbudo e grisalho também é afiada e sincera para comentar o xixi em campo no jogo da ida no Maracanã e as fotos de suas folgas, com direito a cervejas, e os memes, tudo viralizado na web.

Na internet, também surgiu a faceta solidária do camisa 10, que ajudou um menino com síndrome de Down a colher autógrafos do elenco gremista no avião em uma viagem recente da delegação. A história igualmente bombou após relato no Facebook de outro passageiro.
- É bom fugir da regra. Muita gente tem sempre o mesmo discurso, que é padrão. Às vezes falar o que pensa é importante também. As pessoas precisam saber o que acontece e passa. Falta um pouco isso. Esse é meu jeito - filosofa, copo de café em uma das mãos.
No momento de posar para a foto, brincou.

- Agora vou ficar assim, os caras vão pegar a foto e colocar uma cerveja na minha mão (risos) - brincou um Douglas de bem com a vida, com nove gols e oito assistências na temporada.

> Confira a entrevista com o meia:


Meia Douglas concedeu entrevista no CT do Grêmio (Foto: Eduardo Moura/GloboEsporte.com)

GloboEsporte.com: Você chegou aos 50 jogos no ano. Como é ser o cara que mais jogou, enquanto no início do ano talvez pouca gente apostasse nisso?

Muita gente acha, sempre me taxou de chinelinho. E repercute bastante isso. É uma prova de que não existe. Nunca existiu, sempre fui um jogador que nunca machuquei. E está aí a prova, uma sequência bacana, 50 são muitos jogos. Óbvio que é cansativo, é um em cima do outro. Mas na medida do possível vamos tentando recuperar para estar bem nos próximos jogos.

Já vi você falar que passa agora na academia, algo que não ocorria antes. Foi só o Rogerinho (Rogério Dias, preparador físico) ou o Douglas mudou?

A cabeça. Quando bati nos 30 anos, já comecei a pensar diferente. Realmente é muito puxado, e essa parte de academia, treinamento funcional, ajuda muito o atleta. Comecei a me dedicar mais e vem dando resultado. E estou feliz para caramba.

Então tem uma mudança sua.
Até para estender mais a carreira, isso ajuda bastante. Hoje os estudos estão evoluídos, o pessoal tem me ajudado bastante aqui. Está dando uma combinação perfeita.
O que também diminui o assunto em volta de sua barriga, que é sempre comentada entre torcedores e imprensa.

É igual ao fato de ser chinelinho, uma coisa leva a outra. Deixo falar. Não ligo muito para isso, não. Meu resultado tem que estar dentro de campo, aparecer para a comissão técnica. Vem dando resultado e é o que importa.

Leva na brincadeira?
Me incomodava mais antes, eu ficava chateado. Hoje em dia, pela experiência, a gente acaba relevando certas coisas.

Não só o camisa 10, que se fala que está em extinção. Mas jogadores com a sua personalidade, de se manifestar e falar o que pensa. Você também vê assim?

É bom fugir da regra. Muita gente tem sempre o mesmo discurso, que é padrão. Às vezes falar o que pensa é importante também. As pessoas precisam saber o que acontece e passa. Falta um pouco isso. Esse é meu jeito, não tem como mudar mais.

Esse é o Douglas que sempre vimos e vamos continuar vendo, então?
Onde for. Se tiver que falar, vou falar, se tiver que fazer, vou fazer. Então, não vou mudar.

Vai fazer, como ocorreu no Maracanã, no episódio do xixi?

É que agora pegou. Acabaram vendo. É impossível sair do campo para voltar ao banheiro. Não tem como. Sempre usei isso, o pessoal fecha ali e tenta dar uma disfarçada.

Teve esse ano outras vezes, então?
Dos jogos que joguei, uns 95% teve (risos).

O camisa 10 está em extinção?
Vem das categorias de base, hoje é muita referência que são jogadores para frente, com dribles e firulas. A molecada já vem com Messi, Neymar, um jogo diferente. Está acabando, tem o Ganso, que é um jogador inteligente, que faz muito bem isso. E que é muito cobrado, por sinal. Realmente, está acabando.

Acha que o passe é uma das coisas que está mais se desvalorizando hoje?
Eu sempre dei entrevista falando que o passe era mais importante, era um gol. Óbvio que fazer gol valoriza, mas o passe é fundamental. Sempre levei isso comigo. Óbvio que você erra. De 20 passes, erra 18. Porque tem que tentar, não adianta. Para ter o gol tem que ter o passe. Você vai tentando. E por isso vem a cobrança de muitos erros. O passe é fundamental, é peça-chave.

Essa cobrança incomoda? Acha que não entendem quando tenta o lance mais difícil?
De 10, você deixa uma ou duas na cara do gol. Óbvio que da arquibancada é muito mais fácil, sentar e assistir. Fala: "pega a bola, vira lá, vira aqui". Em campo é diferente, a dinâmica é diferente. É sempre importante. Eu tento ter o passe mais em profundidade, buscando o melhor posicionamento do atacante. Vai errar, vai errar várias vezes. Não abala nem um pouco. É minha função. Quando dá certo, ou sai o gol ou tem uma grande chance.

Essa qualidade nasceu contigo e você aperfeiçoou?
Vim aperfeiçoando nas categorias de base. Via muito o Alex (ex-Coritiba, Palmeiras e Cruzeiro) jogar, que encerrou agora. Para mim era o cara, fantástico, inteligentíssimo. E comecei a gostar deste tipo de jogo, de achar os atacantes. Até hoje assisto aos vídeos dele, porque acho interessante. Sempre pega algo. Algum movimento, o jeito de posicionar em campo. Era um cara que não corria muito, mas era participativo com a bola.

Falando em não correr, o Roger diminuiu sua área de ação? Em 2010, com o Renato, dá para dizer que você era o "centroavante" sem a bola, o mais adiantado. Hoje é parecido?
Hoje, eu marco mais. Corro muito mais do que corria em 2010 com o Renato. Está mais competitivo, tem que participar, ajudar. Porque passou na frente, estoura atrás. A gente tenta ajudar. É sofrido, não sou moleque para acompanhar. É complicado. Mas vamos tentando ocupar os espaços bem para não ter erro.

Imagino que a experiência ajude também.
Ajuda muito, você já lê a jogada antes e se posiciona melhor para correr menos. E estar bem quando tiver a bola.

A partir da chegada do Roger, veio essa mudança no seu jogo. Mas veio também com uma mudança de comando, na saída do Felipão, quem o indicou. Como você se sentiu naquele momento?
Eu agradeço muito ao Felipão. Foi o cara que bateu o pé para o meu retorno. Me deu a condição de voltar e jogar. Claro que ficamos chateados, o cara é um ídolo no clube. Sair assim é sempre difícil. Mas respeitamos, tem um comando acima. A diretoria achou melhor trocar. O Roger chegou com uma filosofia diferente da do Felipão, mais competitivo, com trabalhos diferentes. E vem dando certo, é um cara estudioso e tem tudo para ser um grande treinador.
Surpreendeu a maneira do Roger, com atividades diferentes no dia a dia? Por exemplo, podemos ver o campo pintado com linhas diferentes no CT.
Eu sabia que ele estava se preparando há tempos. Peguei ele como auxiliar na minha passagem anterior, já tinha uns trabalhinhos diferentes. Claro que não tinha como colocar em prática, mas dava para ver. Aperfeiçoou muito, com vários estágios. Lembra muito o Tite nos trabalhos, cobra muito a competitividade no treino, a dinâmica. Não me surpreendeu muito, mas para alguns, sem dúvida, surpreendeu um pouco. Ele é um cara mais participativo. Foi bacana a vinda dele.

Queria falar também do sucesso nas redes sociais. Te pegaram para personagem...
Não me deixam em paz. Levo na brincadeira, não me preocupa mais, a gente procura brincar com o pessoal. Alguns exageram, mas é normal. Acho bacana, acho até engraçado.

Exageram em que sentido? Na busca por fotos ou outra coisa?
Os caras buscam fotos de férias, de 4 ou 5 anos atrás (risos). E ficam publicando que estou em tal lugar. Coisas que passaram muito tempo. Mas não tem problema.



Já apertaram você por conta de alguma foto que vazou antiga, com cerveja e essas coisas?
Já, várias fotos. Não adianta falar que a foto é de 2009. É só ver, estou com cabelo mais grisalho, eu era mais cabeludo antes, não tinha barba também. Mas, largou na rede, já era.

As fotos incomodavam mais antes?
Ligava menos ainda, era mais maluco assim, não ligava para nada, mas nunca me incomodou. Os caras ficam buscando… Foram no Facebook de um amigo meu e postaram. Aí é sacanagem.
E os memes contigo? O mais novo foi a capa do Fifa 16 com o seu rosto no lugar do Messi...

(Risos). Os caras são criativos, não tem o que fazer. Está legal. A capa é mundial, ficou bacana.(risos)
Tem também a página do Maestro Pifador. Como você vê tudo isso?
Eu não falaria, né. Douglas, o "pifador". Mas deixo para o pessoal curtir e tirar onda. Deixo para o torcedor.

Outra história do Douglas que rolou nas redes sociais foi uma ajuda que você deu a um garoto no voo de volta do Rio. Como foi essa história?

Foi na hora do embarque. A gente entrou no avião, tinha um garotinho com síndrome de Down, que estava querendo alguns autógrafos. Pegou alguns, mas a galera vai passando e acaba não pegando. Sentei na poltrona da frente e ele pediu. Eu perguntei se todos assinaram e ele disse que não. Aí, fui perguntando para a galera. Ele disse que faltava a do Roger, e fui lá pegar. Depois brincamos, ele pegou meu boné. Foi legal.

Às vezes até a experiência ajuda para ficar atento nisso, imagino.
Acaba passando em branco às vezes. Ele estava todo feliz, querendo autógrafos, em um desenho que tinha feito. Foi legal.

Falamos sobre várias situações. Você teve momentos marcantes aqui no Grêmio e no Corinthians. No Grêmio é onde se sente mais em casa ou é um sentimento igual nos dois?
Nos dois, são dois clubes que eu aprendi a gostar muito. A torcida me abraçou. O fato de eu conhecer todos, aqui também, facilita, como foi lá. Estou feliz por esse retorno aqui, espero poder ganhar títulos, que é o importante, o que fica. O que deixa o jogador marcado na história.
No último Gauchão você estava em campo.
É muito tempo, também. E queremos algo maior, uma conquista nacional. Espero que seja esse ano. Temos tudo para chegar.

Até quando pensa em ir jogando?
Parei de pensar nisso, porque não dá para estipular o prazo. Estou me sentindo bem, conseguindo trabalhar legal, e assim eu vou. Vou deixar os caras me pararem, porque não vou pensar nisso, não.

E a renovação, como anda?
Eu quero ficar, já falei isso. Mas ainda é um momento de muitos jogos, então acaba pensando nas competições. Tem tempo até o final do ano, depois nas férias dá para negociar. Não precisa acelerar muito, não.
E esse estilo diferente nessa passagem? Grisalho e barba preta... Veio de onde?

Não pinto a barba, vamos deixar bem claro (risos). Quis mudar um pouco, baixei o cabelo e deixei a barba crescer. Vou num salão arrumar.


Meia Douglas quer permanecer em 2016 (Foto: Eduardo Moura/GloboEsporte.com)



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