Fellipe Bastos está com boas expectativas para meses no Grêmio (Foto: Paula Menezes/GloboEsporte.com)
É com ânimo renovado que Fellipe Bastos se muda para Porto Alegre. Após quase quatro anos de Rio de Janeiro, o volante chega ao Grêmio com vontade de “renascer para o futebol”, como o mesmo define. Trocar o calor pelo frio pode ser um desafio para quem sempre foi acostumado às praias cariocas, mas não faltam motivos ao volante para acreditar que terá facilidades em se adaptar ao Rio Grande do Sul. No elenco tricolor, tem um anfitrião especial: Giuliano. O meia-atacante, também recém-contratado, é seu amigo desde os tempos da base da seleção brasileira e não vê novidade em morar na capital gaúcha, já que surgiu para os holofotes quando defendeu o Inter.
Apresentado na terça-feira da última semana, Fellipe, de 24 anos, recebeu o GloboEsporte.com para uma conversa no Estádio Olímpico. Simpático, pediu para sair do gramado para a entrevista, pois “a alteração de temperatura” o havia deixado com dor de garganta. Nada grave - tratou de esclarecer entre risos. Ainda em função da mudança para um apartamento no bairro Chácara das Pedras, aguarda ansiosamente pela chegada da esposa Rafaela e dos dois filhos, que permaneceram na capital fluminense até que o processo de troca estivesse concluído.
Na primeira semana, o clima transcorreu tranquilo para o novo reforço, que se sentiu acolhido pelo elenco. Além da amizade com Giuliano, também cita afinidades com o zagueiro Werley.
- Estou gostando muito das pessoas, me receberam muito bem. Estou sendo acolhido principalmente pelo Giuliano, que já era amigo. Ele está chegando agora também, mas conhece Porto Alegre. O Werley eu também conhecia. Estão me deixando ambientado, fora os outros que são super tranquilos. Por enquanto, o Giuliano está me levando “para cima e para baixo”, mas daqui a pouco eu começo a me virar sozinho.
CHANCES
Fellipe terá seis meses para mostrar resultados dentro de campo - o empréstimo junto ao Vasco da Gama, que envolveu a saída de Kleber Gladiador, é por meio ano, podendo ser prorrogado ao final. Com a concorrência no setor, chega com status de reserva ao elenco. Em 2014, Edinho, Riveros e Ramiro foram os volantes preferidos do treinador. Apesar da lista, as possibilidades no Grêmio o deixam com esperanças. Não poderá jogar a Copa do Brasil porque atuou em quatro partidas pelo cruzmaltino, mas se agarra em um provável “rodízio” de Enderson Moreira para ter boas expectativas.
- Vou me dedicar ao máximo, aproveitar as oportunidades que tiver. Treinar bastante para buscar oportunidades, lógico que respeitando meus companheiros, mas estou buscando meu espaço. Só não posso jogar a Copa do Brasil (Grêmio disputará a partir das oitavas). Joguei pelo Vasco. Mas meus companheiros vão ter duas competições, então eu tenho que me dedicar para o Enderson me dar oportunidades.
Fellipe foi apresentado por Rui Costa (direita) e Marcos Chitolina (esquerda) (Foto: Lucas Uebel/Grêmio)
COMEÇO DA CARREIRA
Criado na Penha, bairro simples do Rio de Janeiro, Fellipe viveu a infância e a adolescência próximo ao Complexo do Alemão, área conhecida pela violência e que recentemente ganhou os noticiários devido às ações de pacificação da polícia carioca. Começou no futsal, aos cinco anos, no Florença. Dois anos depois, mudou para o Fluminense, onde permaneceu por três temporadas. Foi no Botafogo, porém, que se formou no futebol. Passou todas as categorias de base no time da estrela solitária, até partir para a Europa.
Sempre teve o incentivo dos pais, Feliciano e Damiana, que alertavam os filhos sobre os perigos da área onde moravam. O irmão mais velho, que passou em um teste do Botafogo mas não persistiu na carreira, também ajudou. Brincavam juntos de chutes a gol. Anos depois, com o futebol, Fellipe conseguiu presentear a família com um apartamento na Barra da Tijuca.
- Foi uma boa infância. Lógico que tem a violência, essas coisas que todo mundo vê na televisão, mas elas não me atrapalharam em nada. Meus pais sempre falaram da violência e do tráfico, diziam que havia dois caminhos. Ou você segue o bom ou o ruim. Graças a Deus segui o caminho bom, e meu irmão e meus amigos também.
DESISTIR?
Pouco tempo depois de sair do Botafogo para o Benfica, de Portugal, Fellipe viveu os dias mais complicados de sua vida como jogador. A esposa, que namora desde 2005, voltou ao Brasil para passar o final de ano com a família, entre 2009 e 2010. Acontece que, ao contrário do que previsto, os dois demoraram a se reencontrar.
O volante estava lesionado e sozinho em terras estrangeiras. Questionava os familiares sobre as razões de Rafaela não voltar para a Europa. Como resposta, ouvia que a mulher estava com pneumonia. Após muito insistir, descobriu que, na realidade, o caso era mais grave. Ela havia contraído tuberculose e teria de passar por longo tratamento. As notícias o deixaram arrasado. A ponto de pensar em desistir da carreira para ficar perto de casa.
- Foi um momento muito complicado. Eu não estava jogando e minha esposa estava com tuberculose, com perigo de morte. Eu pensei se parava ou continuava. O tratamento dela durou nove meses. Quando voltei de férias, vi ela bem magrinha, fazendo tratamento. Eu cheguei a conversar com o meu pai, disse que queria desistir para ajudar ela. E ele me questionou, dizendo que, se eu parasse de trabalhar, eu não ia poder ajudar. Disse que, naquele momento, eu estava dando uma boa condição para ela. Depois ela se recuperou e eu fui para o Vasco, na mesma cidade.
Hoje, o casal tem dois filhos: Giovanna, de dois anos, e Matheus, de 10 meses. Fellipe conta os dias para ver a dupla que está para chegar em Porto Alegre.
- Eles me dão força e alegria no dia a dia - resume.
O jogador foi para Portugal após conquistar o Sul-Americano Sub-17 com a seleção brasileira. No continente europeu, também foi emprestado para o Belenenses, no mesmo país. Também passou pelo Servette, da Suíça. Em 2010, retornou ao Brasil para defender o Vasco. No ano passado, foi emprestado a Ponte Preta, onde foi vice-campeão da Copa Sul-Americana, mas, junto ao grupo, não evitou o rebaixamento da equipe.
"FALTOU PACIÊNCIA"
Nos quase quatro anos de Vasco, o volante oscilou entre bons e maus momentos. Não conseguiu se firmar na equipe e acabou, em muitas vezes, criticado pelo torcedor. Para ele, a razão é uma: faltou paciência. Ao falar sobre os últimos anos, Fellipe demonstra estar chateado com as críticas recebidas. Não acredita que sejam justas.
- Faltava um pouquinho de paciência. Alguns jogadores erravam e não eram criticados. Se eu errava, eu já era criticado, acho que por ter muito tempo no Vasco. Às vezes, eu jogava bem e tratavam como se jogasse mal. Se eu não fazia gol, era criticado. Mas os treinadores me apoiaram. O Adilson (Batista), o Cristovão (Borges), o Ricardo (Gomes). Foram treinadores firmes e com personalidade. Tinha muita pressão fora do clube para me tirar, e eles viam que eu fazia bem para o time, me mantinham.
Fellipe Bastos foi emprestado pelo Vasco ao Grêmio (Foto: Bruno Gonzalez / O Globo)
FUTURO
Devido aos altos e baixos, o empréstimo para o Grêmio representa, de certa maneira, um renascimento. Ele quer se firmar. Sonha alto, até com seleção brasileira e Copa do Mundo de 2018. Para alcançar o objetivo, admite que ainda precisa aprimorar certas questões. Algumas delas psicológicas. Fellipe entende que será necessário amadurecer e confiar mais em seu potencial para conquistar as metas desejadas.
- Dá para sonhar com Seleção. Tenho que me firmar, fazer a diferença. O Grêmio é celeiro de jogadores da seleção, então é continuar trabalhando, me esforçando ao máximo. Tenho qualidade, mas preciso melhorar alguns aspectos. Maturidade, mais confiança em mim mesmo, no que eu faço - projeta.
Para Fellipe, portanto, trabalho é a palavra de ordem. Para realizar os sonhos, precisa, em primeiro lugar, alcançar metas mais próximas: conquistar o torcedor gremista e o técnico Enderson Moreira.
Fellipe Bastos treina há cerca de uma semana com o grupo (Foto: Paula Menezes/GloboEsporte.com)
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Apresentado na terça-feira da última semana, Fellipe, de 24 anos, recebeu o GloboEsporte.com para uma conversa no Estádio Olímpico. Simpático, pediu para sair do gramado para a entrevista, pois “a alteração de temperatura” o havia deixado com dor de garganta. Nada grave - tratou de esclarecer entre risos. Ainda em função da mudança para um apartamento no bairro Chácara das Pedras, aguarda ansiosamente pela chegada da esposa Rafaela e dos dois filhos, que permaneceram na capital fluminense até que o processo de troca estivesse concluído.
Na primeira semana, o clima transcorreu tranquilo para o novo reforço, que se sentiu acolhido pelo elenco. Além da amizade com Giuliano, também cita afinidades com o zagueiro Werley.
- Estou gostando muito das pessoas, me receberam muito bem. Estou sendo acolhido principalmente pelo Giuliano, que já era amigo. Ele está chegando agora também, mas conhece Porto Alegre. O Werley eu também conhecia. Estão me deixando ambientado, fora os outros que são super tranquilos. Por enquanto, o Giuliano está me levando “para cima e para baixo”, mas daqui a pouco eu começo a me virar sozinho.
CHANCES
Fellipe terá seis meses para mostrar resultados dentro de campo - o empréstimo junto ao Vasco da Gama, que envolveu a saída de Kleber Gladiador, é por meio ano, podendo ser prorrogado ao final. Com a concorrência no setor, chega com status de reserva ao elenco. Em 2014, Edinho, Riveros e Ramiro foram os volantes preferidos do treinador. Apesar da lista, as possibilidades no Grêmio o deixam com esperanças. Não poderá jogar a Copa do Brasil porque atuou em quatro partidas pelo cruzmaltino, mas se agarra em um provável “rodízio” de Enderson Moreira para ter boas expectativas.
- Vou me dedicar ao máximo, aproveitar as oportunidades que tiver. Treinar bastante para buscar oportunidades, lógico que respeitando meus companheiros, mas estou buscando meu espaço. Só não posso jogar a Copa do Brasil (Grêmio disputará a partir das oitavas). Joguei pelo Vasco. Mas meus companheiros vão ter duas competições, então eu tenho que me dedicar para o Enderson me dar oportunidades.
Fellipe foi apresentado por Rui Costa (direita) e Marcos Chitolina (esquerda) (Foto: Lucas Uebel/Grêmio)
COMEÇO DA CARREIRA
Criado na Penha, bairro simples do Rio de Janeiro, Fellipe viveu a infância e a adolescência próximo ao Complexo do Alemão, área conhecida pela violência e que recentemente ganhou os noticiários devido às ações de pacificação da polícia carioca. Começou no futsal, aos cinco anos, no Florença. Dois anos depois, mudou para o Fluminense, onde permaneceu por três temporadas. Foi no Botafogo, porém, que se formou no futebol. Passou todas as categorias de base no time da estrela solitária, até partir para a Europa.
Sempre teve o incentivo dos pais, Feliciano e Damiana, que alertavam os filhos sobre os perigos da área onde moravam. O irmão mais velho, que passou em um teste do Botafogo mas não persistiu na carreira, também ajudou. Brincavam juntos de chutes a gol. Anos depois, com o futebol, Fellipe conseguiu presentear a família com um apartamento na Barra da Tijuca.
- Foi uma boa infância. Lógico que tem a violência, essas coisas que todo mundo vê na televisão, mas elas não me atrapalharam em nada. Meus pais sempre falaram da violência e do tráfico, diziam que havia dois caminhos. Ou você segue o bom ou o ruim. Graças a Deus segui o caminho bom, e meu irmão e meus amigos também.
DESISTIR?
Pouco tempo depois de sair do Botafogo para o Benfica, de Portugal, Fellipe viveu os dias mais complicados de sua vida como jogador. A esposa, que namora desde 2005, voltou ao Brasil para passar o final de ano com a família, entre 2009 e 2010. Acontece que, ao contrário do que previsto, os dois demoraram a se reencontrar.
O volante estava lesionado e sozinho em terras estrangeiras. Questionava os familiares sobre as razões de Rafaela não voltar para a Europa. Como resposta, ouvia que a mulher estava com pneumonia. Após muito insistir, descobriu que, na realidade, o caso era mais grave. Ela havia contraído tuberculose e teria de passar por longo tratamento. As notícias o deixaram arrasado. A ponto de pensar em desistir da carreira para ficar perto de casa.
- Foi um momento muito complicado. Eu não estava jogando e minha esposa estava com tuberculose, com perigo de morte. Eu pensei se parava ou continuava. O tratamento dela durou nove meses. Quando voltei de férias, vi ela bem magrinha, fazendo tratamento. Eu cheguei a conversar com o meu pai, disse que queria desistir para ajudar ela. E ele me questionou, dizendo que, se eu parasse de trabalhar, eu não ia poder ajudar. Disse que, naquele momento, eu estava dando uma boa condição para ela. Depois ela se recuperou e eu fui para o Vasco, na mesma cidade.
Hoje, o casal tem dois filhos: Giovanna, de dois anos, e Matheus, de 10 meses. Fellipe conta os dias para ver a dupla que está para chegar em Porto Alegre.
- Eles me dão força e alegria no dia a dia - resume.
O jogador foi para Portugal após conquistar o Sul-Americano Sub-17 com a seleção brasileira. No continente europeu, também foi emprestado para o Belenenses, no mesmo país. Também passou pelo Servette, da Suíça. Em 2010, retornou ao Brasil para defender o Vasco. No ano passado, foi emprestado a Ponte Preta, onde foi vice-campeão da Copa Sul-Americana, mas, junto ao grupo, não evitou o rebaixamento da equipe.
"FALTOU PACIÊNCIA"
Nos quase quatro anos de Vasco, o volante oscilou entre bons e maus momentos. Não conseguiu se firmar na equipe e acabou, em muitas vezes, criticado pelo torcedor. Para ele, a razão é uma: faltou paciência. Ao falar sobre os últimos anos, Fellipe demonstra estar chateado com as críticas recebidas. Não acredita que sejam justas.
- Faltava um pouquinho de paciência. Alguns jogadores erravam e não eram criticados. Se eu errava, eu já era criticado, acho que por ter muito tempo no Vasco. Às vezes, eu jogava bem e tratavam como se jogasse mal. Se eu não fazia gol, era criticado. Mas os treinadores me apoiaram. O Adilson (Batista), o Cristovão (Borges), o Ricardo (Gomes). Foram treinadores firmes e com personalidade. Tinha muita pressão fora do clube para me tirar, e eles viam que eu fazia bem para o time, me mantinham.
Fellipe Bastos foi emprestado pelo Vasco ao Grêmio (Foto: Bruno Gonzalez / O Globo)
FUTURO
Devido aos altos e baixos, o empréstimo para o Grêmio representa, de certa maneira, um renascimento. Ele quer se firmar. Sonha alto, até com seleção brasileira e Copa do Mundo de 2018. Para alcançar o objetivo, admite que ainda precisa aprimorar certas questões. Algumas delas psicológicas. Fellipe entende que será necessário amadurecer e confiar mais em seu potencial para conquistar as metas desejadas.
- Dá para sonhar com Seleção. Tenho que me firmar, fazer a diferença. O Grêmio é celeiro de jogadores da seleção, então é continuar trabalhando, me esforçando ao máximo. Tenho qualidade, mas preciso melhorar alguns aspectos. Maturidade, mais confiança em mim mesmo, no que eu faço - projeta.
Para Fellipe, portanto, trabalho é a palavra de ordem. Para realizar os sonhos, precisa, em primeiro lugar, alcançar metas mais próximas: conquistar o torcedor gremista e o técnico Enderson Moreira.
Fellipe Bastos treina há cerca de uma semana com o grupo (Foto: Paula Menezes/GloboEsporte.com)
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