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De empresário a líder humilde, Erazo quer 'ganhar coração dos gremistas'

Em papo exclusivo, zagueiro titular do Equador na Copa lembra lição de humildade no Brasil e revela lado empresário: "Futebol me escolheu, não precisava de grana"


Fonte: GloboEsporte

De empresário a líder humilde, Erazo quer ganhar coração dos gremistas
O novo titular da defesa do Grêmio foge de um perfil estereotipado do boleiro brasileiro. Lê sobre política e economia, gerencia duas empresas em seu país e já foi pedido como prefeito de Esmeraldas, sua cidade natal no Equador. Quase entrou na faculdade para ser engenheiro de sistemas. Erazo está alçado ao status de titular ao lado de Pedro Geromel - que está fora do jogo deste sábado, contra o Sport, na Arena, suspenso. O camisa 33 gremista recebeu o GloboEsporte.com em seu apartamento, na zona norte de Porto Alegre, para um papo franco em que falou sobre a sua chegada sob desconfiança no Grêmio, a sua boa fase atual, a confiança dada por Roger e o gol contra na derrota para o Coritiba, no Couto Pereira, que culminou com a demissão de Felipão.

Apesar da busca por uma reposição, a diretoria pode confiar no equatoriano. Erazo quer dar o retorno ao Grêmio pela confiança depositada mesmo após o momento ruim no Flamengo, em 2014. Mesmo sem jogar no Rio de Janeiro, o zagueiro classifica aquele período como necessário para sua trajetória. Para recolocar os pés no chão e trabalhar duro por uma vaga entre os titulares do Grêmio, como acontece atualmente com o técnico Roger. Luta para acabar com qualquer desconfiança dos torcedores.

- É normal que a torcida comece a desconfiar quando chega um cara novo, com um passado ruim no Flamengo. A torcida não acreditava muito no meu trabalho. Tinha que dar a volta por cima de qualquer jeito. Não quis sair do Brasil justamente por isso. Sabia que nos primeiros jogos a torcida ia me cobrar, mas eu me foquei. Graças a Deus o grupo me abraçou, o Grêmio me abriu as portas, e agora só penso em dar o meu melhor por esse time - comentou Erazo. - A ideia é essa, ganhar meu espaço dentro do coração gremista.

Ao lado de Erazo estará Rafael Thyere no sábado. O equatoriano também procura preencher a lacuna de líder que a saída de Rhodolfo possa deixar no elenco.


Erazo abre o coração em entrevista exclusiva (Foto: Eduardo Moura/Globoesporte.com)

> Confira a entrevista exclusiva com o zagueiro:

GloboEsporte.com: Podemos começar falando do seu momento. A diretoria já confirmou a saída do Rhodolfo. Como você está vendo esta situação de ser o novo titular da defesa?
Erazo: Desde o primeiro dia em que cheguei no Grêmio a ideia era jogar, ter a oportunidade de estar em campo. E graças a Deus tive muitas oportunidades de estar em campo com os meus companheiros. Bom, depois da saída do Rhodolfo, ficou uma vaga para a gente tentar preencher. O Grêmio sempre se caracterizou por ter grandes jogadores na defesa. Rhodolfo e Geromel já vinham jogando, se conheciam de um tempo atrás. E isso permitiu ter um entrosamento e se conhecer em campo. A oportunidade para que eu possa jogar mais regularmente apareceu e vou fazer sempre tentando dar o meu melhor. Espero que Deus me permita ter uma boa fase no Grêmio. Estou me sentindo muito bem, meus companheiros estão me abraçando, corresponder a eles.

Acha que está tendo uma boa fase, que está indo bem? E também a parceria com o Geromel, como é jogar com ele?
Sempre teve aquela situação de se não jogar com Rhodolfo, jogar com Geromel. A gente sempre se deu bem. Em uma parceria boa dentro e fora de campo. Inclusive em aniversários dos filhos deles, a gente tenta ficar junto e conversar. Isso se transmite em campo. O Rhodolfo me ajudou muito no seu momento. Lamentavelmente o Geromel não pode estar conosco contra o Sport, mas ele é importante para nós. Da minha parte, sempre fazer o melhor. Estou em uma fase boa, estou com sequência, que é importante para mim. Ter aquela continuidade. E responder ao trabalho que o Roger quer no campo, sempre tento ficar concentrado nas coisas que o Roger pede para a gente. Lógico que tenho muito a aprender. Todo dia se aprende algo novo. E estou aprendendo muito com o Grêmio.

Como está sendo com o Roger, todo mundo fala que ele passa confiança, deixa o jogador confiante. Tem sido assim com você?
Para o jogador, é importantíssimo. Mais ainda para o jogador de defesa, que sabe que não pode errar. O centroavante pode errar, não tem problema. O zagueiro errou uma, perdeu o jogo de 1 a 0. Aquela confiança que passou para mim foi muito importante, foi muito legal. Tentei corresponder à confiança que ele me deu. Falei com ele, ele gostou do trabalho que eu venho fazendo até agora. Falou que estou trabalhando bem, que gosta dos meus treinos. E está se transmitindo nos jogos. Até agora, tudo está dando certo. Enquanto ele fique com essa confiança que ele tem em mim.

Como foi esse papo com ele?
Penso que a primeira conversa é sempre importante. Voltei da Copa América e conversei com ele. Cheguei em uma quinta, tinha jogo sábado. Eu queria ir para o jogo, sabia que ia para o banco, mas queria ir para o jogo. Ele falou que precisava fazer um recondicionamento físico, que estava chegando de viagem, que eu levasse as coisas tranquilo. E que ele iria me usar. Só dependeria do meu trabalho. Ali foi quando eu entendi que ele era um técnico que gostava muito do trabalho. Foi o que eu fiz. Comecei a trabalhar, trabalhar. Joguei e ele gostou. Me deu os parabéns pelo jogo contra a Chapecoense, apesar da derrota. Me deu os parabéns depois do jogo com o Vasco também. E foi indo. Comecei a ter a sequência. Você sabe que é difícil para mim, tentar que o torcedor comece a acreditar no meu trabalho… não é algo de dois fins de semana. É de todos os dias. Aos poucos, vou ganhando a confiança do torcedor gremista e dos companheiros. Até agora, tudo está muito bom.

Esse ponto é interessante. A questão da confiança da torcida, como você vê esta situação? Acha que quando chegou havia uma desconfiança?
É normal que a torcida comece a desconfiar quando chega um cara novo, com um passado ruim no Flamengo. A torcida não acreditava muito no meu trabalho. Tinha que dar a volta por cima de qualquer jeito. Não quis sair do Brasil justamente por isso. Sabia que nos primeiros jogos a torcida ia me cobrar, mas eu me foquei. Graças a Deus o grupo me abraço, o Grêmio me abriu as portas, e agora só penso em dar o meu melhor por esse time.

Ainda neste assunto, teve aquele lance em Curitiba (veja no vídeo abaixo). Como trabalhou para superar aquele erro?
Eu me lembro daquele lance, foi muito engraçado. Engraçado porque: porque nunca imaginei que ia bater na minha mão e iria para o canto, sacou? Acho que não foi erro, foi uma infelicidade. A torcida começou a me cobrar, mas tentava não prestar atenção nestas coisas. Só no meu trabalho. Sabia que com trabalho, tudo ia passar. Agora estou em uma fase boa e espero seguir deste jogo.


De onde veio o Erazo? Como começou no Equador e como se tornou o Erazo, o Elegante?
Não planejei ser jogador de futebol. Quando comecei a minha carreira, sempre pensei em ser empresário, engenheiro, algo assim. O futebol apareceu na minha vida no momento certo. Comecei a treinar em times do meu bairro, depois fui para a capital, Quito, tive a oportunidade de ter minha primeira participação em um jogo profissional, com 18 anos. Depois, Deus começou a mexer aí, fiquei campeão em 2006 com o Nacional.

Depois em 2011, o Barcelona-EQU me comprou. Fomos campeões em 2012. A torcida gostava muito de mim lá, começaram com o apelido do Elegante. Aí, ficou. Sempre que vou para lá, é o Elegante. Depois, foi aquela época que passei no Flamengo. Que acho que foi boa. Deus me colocou os pés no chão, sabe? No seu país, você é o cara, todo mundo fala de você, você está com moral. Quando cheguei no Brasil todo meu cenário mudou. Ficava no banco, às vezes não viajava, não era relacionado. Fiquei, "ai meu Deus, o que está acontecendo aqui?", isso é estranho para mim. Voltei de uma Copa do Mundo e no outro dia tinha que treinar com os garotos do sub-20. Ficava pensando: "tem alguma coisa errada".

Como foi esse momento para reagir a isso, você realmente botou os pés no chão?
Psicologicamente, foi difícil. Mas eu entendi que Deus estava trabalhando comigo, que queria que eu fosse mais humilde, que entenda as situações. Comecei a enxergar as coisas de maneira diferente. Entender o cara que está jogando e o que não está jogando, o que é relacionado e o que não é relacionado. Comecei a enxergar as coisas de maneira muito bacana. Pode perguntar para os meus companheiros do Fla, sou muito querido. Aos treinadores também. Quando cheguei no Grêmio, também. O Rhodolfo e o Geromel, que pode ser aquilo de ele fica na dele e eu na minha, porque jogamos... Lembro do jogo em que o Geromel voltou da lesão, que o Felipão estava indeciso, se jogava Erazo ou Geromel. Eu lembro que Geromel estava no chão, todo suado, aí peguei uma toalha na minha mão e fui secar ele: "Vamos, você está jogando bem para c…", falei para ele. Desculpa que falei palavrão, mas está saindo do coração. (risos) Ele sentiu isso, "esse cara aqui era bacana, é parceiro, eu jogando, ele no banco, e esse cara secando meu cabelo". Eles perceberam isso. Quando eu vou jogar, todo mundo me abraça "vamos Erazo, você vai bem para caramba, tamo junto". Até agora estou me sentindo muito bem no time.

Erazo em seu apartamento em Porto Alegre (Foto: Eduardo Moura/GloboEsporte.com)


Você citou que não pensava em ser jogador. Chegou a estudar para isso?
Cheguei… Mas o futebol começou a dar os frutos. Sabia que tinha que tomar uma decisão. Meu pai perguntou o que eu queria. Mas não era o que eu queria, era o que estava dando resultado naquele momento. Foi como espuma, de um momento a outra estava na seleção, com 22 anos, era capitão do meu time. Falei: "acho que é por aqui mesmo".

Chegou a estar perto da faculdade?
Estava com o cadastro para a faculdade. Estava pronto. De uma hora para outra, falei: vou fazer como? Eu treino pela manhã, a faculdade é pela manhã. Meu pai disse: "você tem que tomar a decisão, uma coisa ou outra. Não pode dar 50% aqui e 50% lá, é 100% em um deles". Foi o futebol que eu escolhi. Acho que o futebol me escolheu, na verdade.

Você se formou no ensino médio lá no Equador então? Porque aqui no Brasil a maioria não é formado…
No mundo do futebol, tem esse meio que, pelo geral, os jogadores não têm os pais que ajudam, que botem na cabeça deles que tem que estudar e tal. Veem que o menino joga bola e falam que vai ser jogador, que é o caminho. No meu caso não foi assim, por isso digo que o futebol me escolheu. Eu estava bem. Não precisava de grana. Não tinha muita, mas não estava como se não jogasse futebol, vou morrer de fome. Meu pai perguntou o que eu queria e eu disse que queria ser engenheiro de sistemas. Eu gosto, computador, programação e tal. Aí beleza. Uma vez um professor me viu jogando bola e falou que eu tinha que ser jogador. E eu disse que meu caminho era outro. E aí foram aparecendo as coisas. Falei com a minha mãe e ela disse que era por ali mesmo.

Você começou quando?
Comecei aos 10 anos, já sabia jogar bola. Mas seguia indo para o colégio. Quando tomei a decisão, tinha 18 anos, quando tinha que ir para a faculdade. Estava no Nacional nesta época. Aí, chegou seleção, um monte de coisas. Tive que me organizar. Agora, graças a Deus, sou jogador de futebol e empresário. Tenho duas empresas lá. Gosto de mexer, ver de política, economia.

Legal que tem o perfil diferente, aqui para o Brasil, que temos um tipo de boleiro, é diferente. Você foge do estereótipo. Lê sobre política...
Minha esposa às vezes fala que estou pensando em política e tal, e tem jogo amanhã. E eu falo que tem jogo, mas é amanhã. Tenho lá uma parceria com a Nestlé, uma empresa que distribui os produtos Nestlé lá no Equador e uma empresa de caminhões, de transporte. Eu gosto, sempre gostei (de ler). Em uma oportunidade, falaram que tinha que ser o prefeito da minha cidade. (risos). Mas só olho, dou conselhos.

Cresce a sua responsabilidade no elenco, até como líder, com a saída do Rhodolfo?
A ideia é essa, ser líder também. Me sinto um líder, sempre fui um líder nos times que estive, na seleção, Barcelona. Pelos clubes que passei. Sempre fui um líder. Quero fazer a mesma coisa no Grêmio. mas tem que ir devagar, no dia a dia, com trabalho. Que o companheiro do lado começa a acreditar no que você faz. O Grêmio é um time grande no Brasil, todo mundo conhece. Não vai ser fácil. Mas estou tranquilo, sabendo que até agora estou fazendo as coisas certas, treinando com vontade e acreditando no meu trabalho. Deus está me respaldando até agora.

Brasileirão com o Roger, o time tem ido bem, e agora tem uma briga direta com o Sport. Como projeta a partida, querem a Arena cheia?
Psicologicamente, para o jogador é importante contar com o apoio da torcida. É um jogo muito importante para nós pela disputa no G-4. Tenho certeza que a torcida vai para a Arena. Temos que ganhar de qualquer jeito, precisamos dos três pontos para ficar ali em cima. Vai ser um jogo muito pegado, muito difícil. Roger transmitiu uma coisa muito importante para nós, que é começar a acreditar, a se acostumar a ganhar. Quando se acostuma a perder, você fica lá embaixo todo o tempo. É o que estamos fazendo, entramos nos jogos procurando o gol. Mantendo a nossa identidade, que é bola pelo chão, as transições da defesa para o ataque. Até agora, tudo está dando certo. Tenho certeza de que, no jogo com o Sport, vamos fazer um grande jogo.


Erazo vive boa fase no Tricolor (Foto: Lucas Uebel/Grêmio FBPA)

Como está sendo a vida do Erazo em Porto Alegre, tem assédio da torcida?
O torcedor gremista é sempre apaixonado. Quando encontro eles pela rua, tiram foto. Minha família está gostando muito da cidade, meus filhos estão se acostumando e aprendendo a língua. Minha esposa também. Cada um deles está tendo sua rotina diária. Até agora, a cidade nos acolheu muito bem. Isso tem que colar a mão com o que eu faço no Grêmio. Até agora, está ótimo.

Grêmio tem uma história com zagueiros estrangeiros, pensa nisso também?
A ideia é essa, ganhar meu espaço dentro do coração gremista. Mas só se faz com trabalho. A gente tem duas competições muito importantes, Brasileirão e Copa do Brasil. Conseguimos um passo importante na Copa do Brasil, agora é no sábado, pela permanência no G-4. No final do ano, vamos ver o que estamos fazendo, nossa ideia é ter um título. Estamos tentando dois títulos, Copa do Brasil e Brasileirão, mas só depende de nós. Não depende mais de ninguém. Espero que se conscientize do que fazer no campo, manter o grupo forte e focado, e as coisas vão vir. Deus vai nos abençoar com um título.

A próxima fase da Copa do Brasil terá todos os grandes do Brasil, São Paulo, Corinthians, Palmeiras, Santos, enfim... Como imagina a competição? Muda um pouco, imagino…
Vai ser muito disputada. Muda, com certeza. Sempre tem time grande por títulos importantes. Tu falou um monte de equipes que querem a Copa do Brasil. Mas nós também queremos. Temos que ver quem quer mais. Isso se vê dentro do campo, somente. Na Copa do Brasil demos um passo importante, e agora rapidamente temos que mudar nosso foco para o Brasileirão. Nosso time está psicologicamente muito bem, é um grupo muito bacana. Permite fazer o trabalho bem feito. As coisas estão andando como a gente quer.

Grupo parece unido, mesmo. Como vocês trabalham para deixar todo mundo enturmado, para não deixar algum guri envergonhado, por exemplo?
Nosso grupo não tem isso. O guri que sobe da base para treinar conosco, a gente sempre tenta acolher ele. Tem um monte de casos ali, Moisés, Raul, Júnior, Lincoln, posso falar um monte de moleques que estão ali e se sentem parte do elenco. A gente transmite para eles, para que quando joguem, não fiquem com vergonha de pedir a bola, que irão cobrar. Ao contrário, que ele se sinta parte de nós. Até agora, os moleques estão se dando bem nos treinos, com intensidade. A nossa parte é tentar ajudar, sabemos que eles são o presente e o futuro do Grêmio.

Como é disputar o clássico e muda alguma coisa para vocês a queda do Inter na Libertadores?
Na verdade isso, é um problema do Inter. A gente só pensa no trabalho que cada um de nós está fazendo. Já tivemos a possibilidade de jogar três Gre-Nais, é um jogo muito pegado, muito difícil. Mas agora é Sport, depois temos que pensar no Fluminense, depois é o Inter.


Erazo valorizou união do elenco (Foto: Eduardo Moura)



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