O Olímpicos Bar está à venda. Após mais de três décadas cuidando do comércio, Dalcir Badin, de 68 anos, não quer mais saber. A morte da esposa, vitimada por um câncer há duas semanas, acelerou o plano de ir embora. Até porque o movimento não é aquele dos velhos tempos, quando um estádio pulsava às costas do bar. Hoje, fregueses são escassos, e o que sobrou do Olímpico Monumental são escombros, ruínas – e as memórias que ajudaram a construir um dos maiores clubes do Brasil.
Faz quase dez anos que o Grêmio se despediu de sua antiga casa. E ela segue lá, cravada na Azenha, um bairro de comércio farto, prédios pequenos e trânsito intenso em uma região central de Porto Alegre. Mas o que resta é um cenário muito diferente. O palco de tantas conquistas virou um monumento abandonado, à espera da demolição, enquanto seu destino pende sob uma disputa de bastidores entre o clube, uma construtora e a Prefeitura da capital gaúcha.
Aqui jaz o Olímpico
Na tarde da última terça-feira, uma senhora de 72 anos varria o chão e tirava o mato entranhado na calçada da rua José de Alencar, bem em frente a uma das principais entradas do Olímpico. Ela já havia feito o mesmo em outros locais da via, onde se sucedem placas de vende-se – em casas, prédios, lojas comerciais.
Aquele espaço, até 2012, era o coração da concentração da torcida antes dos jogos. A organizada tomava um bar de esquina, hoje fechado, e isopores se sucediam de ponta a ponta na rua: à direita, até uma praça junto à chamada Rótula do Papa, agora ocupada por moradores de rua, onde os gremistas costumavam assar carne em pequenas churrasqueiras; à esquerda, até a avenida Carlos Barbosa, onde ônibus descarregavam mais e mais torcedores para engrossar a festa.
É na Carlos Barbosa que fica o Olímpicos Bar.
– Bah, tá louco, quase 50 anos juntos, não tem como o cara não ficar mal – disse Dalcir naquela terça-feira, com os olhos úmidos, ao falar da esposa, Juraci.
O único cliente do bar anuiu com a cabeça, em silêncio, e bebeu mais um gole de cerveja.
– Conheci ela ainda guri, em Soledade. Nossos pais jogavam carta e bebiam vinho junto. Aí a gente veio pra cá e passou a vida aqui, bem dizer. Mas sem ela não tem como, coloquei pra vender. E te digo uma coisa: antigamente, isso aqui vendia 400 espetinhos em dia de jogo. Eram 20, 30 caixas cheias de garrafa vazia, eu não tinha nem onde guardar. Mas tudo bem, não dá pra reclamar – completou.
O bar ainda tem uma identidade visual que remete ao Grêmio. É um dos últimos assim na região. O próprio Dalcir usa uma calça e uma camiseta de passeio do Grêmio. O letreiro, com o símbolo do clube, diz: “Olímpicos Bar – point tricolor”. Mas de point o local tem só lembranças. Ao lado da porta guardada por uma vira-lata, escrito a giz em um quadro-negro, está o aviso de que os tempos são outros: “Vendo bar”.
A poucos passos dali, na mesma avenida, estão alguns dos pontos onde o abandono do Olímpico fica mais evidente. Sob um lance de arquibancada visível graças à derrubada de uma parede, é possível ver um cemitério de vasos sanitários – que antes ocupavam os banheiros do estádio.
Um pouco adiante, um matagal toma conta da área dos antigos campos suplementares, onde treinavam os jogadores – onde foram criados craques como Renato e Ronaldinho, onde treinadores como Luiz Felipe Scolari e Telê Santana montaram equipes. Ao fundo, é possível ver, esquecido, o conjunto de bancos que ficava à beira do gramado para atletas descansarem, técnicos observarem os treinos, jornalistas fazerem anotações.
Mas a destruição está em toda parte. Circulando pelo Olímpico, é possível ver paredes derrubadas, salas inteiras eliminadas, vidros, grades e portões retirados. Pedaços de ferro e de concreto pendem da estrutura. Por frestas, vê-se um pedaço do campo com o mato alto, um canto vazio de arquibancada.
É o Grêmio quem ainda toma conta da área, que tira cerca de R$ 100 mil mensais das contas tricolores. Os portões estão todos fechados com cadeado – a entrada é proibida. O clube tem 13 pessoas trabalhando no local, entre seguranças e responsáveis por manutenção. A presença de funcionários se tornou necessária pelas invasões ao estádio, que já foram mais frequentes, mas ainda acontecem.
– À noite, você não consegue impedir as invasões. Tem gente que vai lá e dorme. Tem gente que toma aquele lugar para fazer um cantinho de uso de drogas – lamentou o presidente do Grêmio, Romildo Bolzan Júnior, em entrevista ao ge.
A situação machuca os gremistas. E por um motivo muito simples: eles adoravam aquele estádio. No dia 2 de dezembro de 2012, um Gre-Nal marcou o que deveria ter sido o último jogo do Olímpico. Encerrado o clássico, um empate por 0 a 0, os torcedores não arredavam pé das arquibancadas. Cantavam, aplaudiam, olhavam em volta. E muitos, aos montes, choravam sem parar – como se estivessem se despedindo de um ente querido, de um amigo de velha data.
Acabou que o Olímpico recebeu outros quatro jogos em 2013, já intercalados com a Arena. No dia 17 de fevereiro de 2013, o Grêmio efetivamente fez sua última partida no estádio: uma vitória de 1 a 0 sobre o Veranópolis, com gol do zagueiro Werley, pelo Campeonato Gaúcho. O público foi de 13 mil pessoas. Naquele dia, torcedores levaram uma faixa que dizia: “Olímpico é nosso, Arena da $$$”, em referência à construtora OAS.
Já era um momento em que começava a azedar e relação entre o clube e a empresa que havia construído a Arena, nova casa do Grêmio, distante cerca de 12km do antigo estádio – que, pelo acordo, seria implodido e daria lugar a prédios, de posse da OAS. O clube se irritava com as condições do novo gramado e criticava a construtora pela dificuldade em baixar o preço dos ingressos. E também havia um incômodo por uma grade ter cedido na comemoração de um gol em jogo contra a LDU, pela Libertadores. Torcedores ficaram feridos.
Mas a mudança estava sacramentada. Ao longo de 2013, o Olímpico começou a ser demolido, em preparação para a implosão, prevista para outubro daquele ano, assim que a OAS entregasse as chaves da Arena para o Grêmio e o Grêmio entregasse as chaves do Olímpico para a OAS. Seria um grande evento, com transmissão ao vivo na TV e perspectiva de um documentário feito pela National Geographic.
– Dá uma tristeza imensa ver que um símbolo da nossa história está daquele jeito. A nossa história está ali. O Grêmio é um segundo filho que eu vi crescer.
Grêmio, 2022, Olímpico
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Aqui jaz o Olímpico
Na tarde da última terça-feira, uma senhora de 72 anos varria o chão e tirava o mato entranhado na calçada da rua José de Alencar, bem em frente a uma das principais entradas do Olímpico. Ela já havia feito o mesmo em outros locais da via, onde se sucedem placas de vende-se – em casas, prédios, lojas comerciais.
Aquele espaço, até 2012, era o coração da concentração da torcida antes dos jogos. A organizada tomava um bar de esquina, hoje fechado, e isopores se sucediam de ponta a ponta na rua: à direita, até uma praça junto à chamada Rótula do Papa, agora ocupada por moradores de rua, onde os gremistas costumavam assar carne em pequenas churrasqueiras; à esquerda, até a avenida Carlos Barbosa, onde ônibus descarregavam mais e mais torcedores para engrossar a festa.
É na Carlos Barbosa que fica o Olímpicos Bar.
– Bah, tá louco, quase 50 anos juntos, não tem como o cara não ficar mal – disse Dalcir naquela terça-feira, com os olhos úmidos, ao falar da esposa, Juraci.
O único cliente do bar anuiu com a cabeça, em silêncio, e bebeu mais um gole de cerveja.
– Conheci ela ainda guri, em Soledade. Nossos pais jogavam carta e bebiam vinho junto. Aí a gente veio pra cá e passou a vida aqui, bem dizer. Mas sem ela não tem como, coloquei pra vender. E te digo uma coisa: antigamente, isso aqui vendia 400 espetinhos em dia de jogo. Eram 20, 30 caixas cheias de garrafa vazia, eu não tinha nem onde guardar. Mas tudo bem, não dá pra reclamar – completou.
O bar ainda tem uma identidade visual que remete ao Grêmio. É um dos últimos assim na região. O próprio Dalcir usa uma calça e uma camiseta de passeio do Grêmio. O letreiro, com o símbolo do clube, diz: “Olímpicos Bar – point tricolor”. Mas de point o local tem só lembranças. Ao lado da porta guardada por uma vira-lata, escrito a giz em um quadro-negro, está o aviso de que os tempos são outros: “Vendo bar”.
A poucos passos dali, na mesma avenida, estão alguns dos pontos onde o abandono do Olímpico fica mais evidente. Sob um lance de arquibancada visível graças à derrubada de uma parede, é possível ver um cemitério de vasos sanitários – que antes ocupavam os banheiros do estádio.
Um pouco adiante, um matagal toma conta da área dos antigos campos suplementares, onde treinavam os jogadores – onde foram criados craques como Renato e Ronaldinho, onde treinadores como Luiz Felipe Scolari e Telê Santana montaram equipes. Ao fundo, é possível ver, esquecido, o conjunto de bancos que ficava à beira do gramado para atletas descansarem, técnicos observarem os treinos, jornalistas fazerem anotações.
Mas a destruição está em toda parte. Circulando pelo Olímpico, é possível ver paredes derrubadas, salas inteiras eliminadas, vidros, grades e portões retirados. Pedaços de ferro e de concreto pendem da estrutura. Por frestas, vê-se um pedaço do campo com o mato alto, um canto vazio de arquibancada.
É o Grêmio quem ainda toma conta da área, que tira cerca de R$ 100 mil mensais das contas tricolores. Os portões estão todos fechados com cadeado – a entrada é proibida. O clube tem 13 pessoas trabalhando no local, entre seguranças e responsáveis por manutenção. A presença de funcionários se tornou necessária pelas invasões ao estádio, que já foram mais frequentes, mas ainda acontecem.
– À noite, você não consegue impedir as invasões. Tem gente que vai lá e dorme. Tem gente que toma aquele lugar para fazer um cantinho de uso de drogas – lamentou o presidente do Grêmio, Romildo Bolzan Júnior, em entrevista ao ge.
A situação machuca os gremistas. E por um motivo muito simples: eles adoravam aquele estádio. No dia 2 de dezembro de 2012, um Gre-Nal marcou o que deveria ter sido o último jogo do Olímpico. Encerrado o clássico, um empate por 0 a 0, os torcedores não arredavam pé das arquibancadas. Cantavam, aplaudiam, olhavam em volta. E muitos, aos montes, choravam sem parar – como se estivessem se despedindo de um ente querido, de um amigo de velha data.
Acabou que o Olímpico recebeu outros quatro jogos em 2013, já intercalados com a Arena. No dia 17 de fevereiro de 2013, o Grêmio efetivamente fez sua última partida no estádio: uma vitória de 1 a 0 sobre o Veranópolis, com gol do zagueiro Werley, pelo Campeonato Gaúcho. O público foi de 13 mil pessoas. Naquele dia, torcedores levaram uma faixa que dizia: “Olímpico é nosso, Arena da $$$”, em referência à construtora OAS.
Já era um momento em que começava a azedar e relação entre o clube e a empresa que havia construído a Arena, nova casa do Grêmio, distante cerca de 12km do antigo estádio – que, pelo acordo, seria implodido e daria lugar a prédios, de posse da OAS. O clube se irritava com as condições do novo gramado e criticava a construtora pela dificuldade em baixar o preço dos ingressos. E também havia um incômodo por uma grade ter cedido na comemoração de um gol em jogo contra a LDU, pela Libertadores. Torcedores ficaram feridos.
Mas a mudança estava sacramentada. Ao longo de 2013, o Olímpico começou a ser demolido, em preparação para a implosão, prevista para outubro daquele ano, assim que a OAS entregasse as chaves da Arena para o Grêmio e o Grêmio entregasse as chaves do Olímpico para a OAS. Seria um grande evento, com transmissão ao vivo na TV e perspectiva de um documentário feito pela National Geographic.
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